quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Luta dos guaranis-kaiowas ganha projeção internacional


JC e-mail 4618, de 06 de Novembro de 2012.
Luta dos guaranis-kaiowas ganha projeção internacional


Só em 2011, ocorreram no País 56 conflitos fundiários pelo Brasil afora.

Nas últimas duas semanas, o Brasil incorporou no vocabulário o nome do povo Guarani-Kaiowa. "É caiová, ou tem som de 'ua'?", perguntaram centenas de pessoas nas redes sociais, numa curiosidade recém nascida sobre o povo indígena. Após uma carta interpretada como uma ameaça de suicídio coletivo, milhares de pessoas aderiram a causa, militando nas ruas ou na internet, para chamar a atenção para o drama dos 170 índios da comunidade Pyelito kue/Mbrakay, que reivindicam um pedaço de terra de dois hectares de extensão, numa fazenda de 700 hectares. A luta dessa etnia não é um fato isolado. Só em 2011 foram registrados, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 56 conflitos fundiários no País envolvendo índios em 16 estados. São disputas que ocorreram em áreas demarcadas e fora delas. Os dados referentes a este ano ainda estão em fase de consolidação.

A luta dos Guarani, dividida nas etnias Kaiowa e Ñandevá, vem ocorrendo nas terras férteis do Mato Grosso do Sul e envolve 45 mil indígenas, dos quais 15 mil deles vivem à beira das estradas no estado. O grito de guerra dos Guarani-Kaiowa foi tão alto e causou tamanha comoção, dentro e fora do Brasil, que, em tempo recorde, a desembargadora Cecília Mello, da 3ª Região do Tribunal Regional Federal do MS, decretou, no final da última semana, à permanência dos índios na fazenda Cambará, no município de Tacuru, a 462 km de Campo Grande. A desocupação vinha sendo reivindicada pelos fazendeiros locais. O governo, por sua vez, montou uma força-tarefa.

Também no final da última semana, a secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reuniram-se com as lideranças dos Guarani-Kaiowa. Da reunião saíram várias decisões: envio da Força Nacional; seis lideranças indígenas ameaças passaram a ficar sob a proteção do Estado; e a Polícia Federal manterá reforço policial à área.

O Mato Grosso do Sul virou o palco desse drama. A pujança do seu crescimento econômico contrasta com a miséria dos índios. No ano passado, o estado registrou o maior crescimento de área plantada de cana-de-açúcar do País. Os canaviais ocupam 650 mil hectares, que renderam, na última safra, R$ 1,9 bilhão, o equivalente a 4,8% da produção nacional. Outros dois milhões de hectares são plantados com grãos. O estado é hoje o quarto maior produtor nacional de algodão e o quinto de soja. A própria Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu a existência do conflito fundiário na área.

Em meio a briga, aumentou a pressão para a conclusão de um relatório completo sobre a situação dos Guarani, os Kaiowa e os Ñandevá. Seis grupos técnicos de identificação e delimitação de terra estão trabalhando para entregar o documento ao governo até meados de 2013. Antropólogos contratados pela Funai estão debruçados sobre dados oficiais, mas reclamam de dificuldades no trabalho de campo. É que, segundo o antropólogo Rubem Almeida, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que trabalha com ambas as etnias no Mato Grosso do Sul desde 1976, alguns fazendeiros não estão deixando os pesquisadores entrarem nas fazendas para pesquisa encomendada pela Funai. CONTINUA!