sábado, 10 de novembro de 2012

Aluno que boicotar exame terá 'ficha suja', diz conselho de medicina de SP


JC e-mail 4621, de 09 de Novembro de 2012.
Aluno que boicotar exame terá 'ficha suja', diz conselho de medicina de SP


'Rebeldia' será arquivada e poderá ter 'impacto negativo' na carreira do futuro médico, afirma Cremesp. Líderes estudantis de três universidades pregam boicote à prova, que é obrigatória para estudantes do 6º ano.

Estudantes de medicina que boicotarem o exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) poderão ficar com a "ficha suja" no conselho. A prova, que passou a ser obrigatória para os alunos do sexto ano, é pioneira no País e acontece no domingo em São Paulo. Sem o certificado de participação, o estudante não obtém o registro profissional no conselho paulista.

Lideranças estudantis de três universidades (Unicamp, Unesp e Faculdade de Medicina de Marília) estão recomendando que os alunos boicotem o exame. A orientação é para que marquem, em todas as questões, a alternativa "B", de boicote.

Segundo o Cremesp, o "ato de rebeldia" ficará arquivado no conselho, na pasta do futuro médico. "Esses colegas estão entrando na profissão agora. Será que vão querer começar já cometendo uma infração ética?", questiona o conselheiro Bráulio Luna Filho e um dos coordenadores do exame, referindo-se à resolução que tornou obrigatório o exame.

Ele diz que a adesão ao boicote poderá ter um "impacto negativo" na carreira do futuro médico. "Não pretendemos fazer nenhum uso disso agora. Mas [a prova] vai ficar guardada, se precisar."

Criado em 2005, o exame era optativo até o ano passado. Nos últimos anos, foi sendo esvaziado. Em 2011, apenas 418 alunos (contra 998 de 2005) se inscreveram. A taxa de reprovação foi de 46% - índice médio dos últimos sete anos. "Temos absoluta convicção de que o recém-formado que não consegue acertar 60% da prova não tem condições de sair atendendo as pessoas sem colocar em risco a saúde delas", afirma Renato Azevedo Júnior, presidente do Cremesp.

O teste não exige nota mínima para aprovação. O aluno só precisa comparecer no dia da prova e responder a todas as questões. Por força de lei, o Cremesp não pode condicionar o registro à aprovação em um exame. Isso exigiria uma lei federal.

Novo modelo - A Associação Brasileira de Ensino Médico (Abem) e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já se posicionaram contrários ao exame do Cremesp. Eles defendem uma avaliação seriada do aluno: no 2º, 4º e 6º anos do curso.

Padilha disse que os ministérios da Saúde e da Educação estão discutindo um novo modelo de avaliação permanente dos estudantes e das escolas médicas. "É preciso avaliar aluno e faculdade. Se não houver evolução, o aluno não pode ser o único penalizado. A faculdade deverá ser proibida de ofertar novo vestibular."

Azevedo Júnior, do Cremesp, afirma que o conselho é favorável que as escolas de medicina avaliem seus alunos permanentemente, mas que haja uma avaliação externa no final do curso, nos moldes das que existem nos EUA e na Inglaterra. "As escolas são ineficientes nas suas avaliações. O ministério e a Abem defendem o exame progressivo, mas não o fazem", diz Luna Filho.

A despeito da polêmica, o exame tem recebido apoio de médicos renomados, como o cardiologista Adib Jatene e o oncologista Drauzio Varella, que também defendem avaliações externas periódicas. Para Jatene, o teste não deve ser encarado como punição, "mas como uma das formas de obrigar a escola a ensinar, e o aluno a aprender". CONTINUA!