Quão livres podem ser nossos filhos diante da iminência da morte que espreita nas ruas? Vítimas de inconsequentes do trânsito, de criminosos do asfalto ou de maníacos do parque, sucumbindo até por balas perdidas na escola, eles saem hoje de casa com o imenso risco, cada vez maior, de não mais voltar. Na açodada escalada do crime e do regime de autoridade policial frouxa, despreparada e mal paga – corruptível e corrompida –, aumenta por esses dias o número de pais órfãos e desesperados. No contrafluxo da vida e da ordem natural das coisas, eles protagonizam o inaceitável: enterram seus filhos, entes queridos, arrancados abruptamente de uma história inteira que ainda poderiam ter pela frente. Aos familiares que ficam, a questão: como encarar a dor dilacerante dessa perda e seguir adiante? Enxergar sem revolta a inanição operacional das autoridades e se conformar com a “fatalidade” corriqueira porque não há mais nada a fazer? Insuportavelmente banal em nossa sociedade “moderna” e desigual, a morte sem sentido ocorre aqui em maior número e de forma mais cruel que nos campos de guerra. E sempre na faixa mais jovem da população. Um país socialmente maduro e economicamente viável apresenta a seus cidadãos condições de longa vida, com qualidade e perspectiva. Ainda não chegamos a esse estágio. Por conta, também, da punição não aplicada ou da pena abrandada, que estimulam a bandidagem. Não por menos o item segurança foi elevado à condição de primeiro na lista de prioridades do eleitor brasileiro.
A imagem de mais uma mãe consumida pela dor infinita choca a todos e exige de cada um de nós, mais uma vez – e incansavelmente dia após dia –, o engajamento na luta por uma mudança radical desse estado de abandono legal e despreparo da polícia, que não protege e que muitas vezes faz vista grossa. O Brasil pode e precisa ser um país melhor, mais seguro, menos resignado. Não deve ser tomado pelo estupor ante a violência. A bestialidade dos rachas de carros, do tráfico nos morros que aterroriza moradores, da marginalidade desenfreada e de tudo o que há de mais selvagem nas metrópoles deve ser inapelavelmente varrida do mapa para garantir, ao menos às futuras gerações, uma vida mais civilizada.
A primeira (a esq.) perdeu o filho vitimado por bala perdida na escola
e a segunda, por racha
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