quinta-feira, 3 de março de 2011

Pateta no trânsito (Motor Mania, Walt Disney 1950)



Walt Disney - 1950




Via Massa Crítica - Porto Alegre
02.03.2011:


Justificativa vs. Explicação: reflexões sobre o programa Polêmica da Rádio Gaúcha

Caros Colegas.

Ontem pude ouvir o programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, onde o Lauro Quadros contou com a presença de nossos companheiros Pablo Weiss e Marcelo Kalil, bem como de diversos especialistas em assuntos de trânsito.

Achei o programa louvável por ser um dos primeiros esforços de abordar a questão para ALÉM do fato imediato (atropelamento em massa). Como é de costume no programa, que sempre aborda uma questão polêmica para que os ouvintes se manifestem, foi feita mais ou menos a seguinte questão:

“O atropelamento em massa tem explicação?

■Se você acha que a explicação para o ocorrido é a cultura da pressa, disque tal;
■Se você acha que o ocorrido não tem explicação, disque tal.”

O resultado final mostra que 79% por cento das pessoas que ligaram acha que não tem explicação. Entretanto, durante o programa foi feita uma produtiva argumentação, e em especial o ponto de vista dos especialistas de trânsito – onde havia pelo menos um psiquiatra – foi contrária: eles acham que tem, sim, explicação.

Escrevo exatamente para levantar uma sutil porém fundamental diferença de ponto de vista entre a visão popular, talvez mais “senso comum”, e a visão de especialistas, até porque, como já se constatou em diversos estudos, a raiz do problema não é óbvia nem intuitiva. E também a diferença entre os conceitos de EXPLICAÇÃO e de JUSTIFICATIVA.

Para usar um exemplo extremo: um cara no bar foi xingado e puxou uma arma, e matou quem o xingou. Tem justificativa? Não. Tem explicação? Sim: o cara ficou com raiva, perdeu o controle, tinha uma arma e matou o outro. Justificar presume que seja justo, que seja moralmente válido. Atos errados não são justificáveis, mas são explicáveis.

Os especialistas destacaram diversos aspectos, os quais não me recordo com absoluto detalhe (se alguém se recordar ou tiver gravado o programa, favor me corrija ou complemente), mas que oscilam em torno dos fatores cognitivos e psicológicos associados aos conflitos de trânsito, como por exemplo:

■O estresse que surge simplesmente por fazer parte do trânsito de grandes cidades;
■A sensação de poder oferecida pela condução de um veículo automotor;
■A perspectiva alterada de quem está dentro do veículo, em contraposição à perspectiva de quem está fora do veículo, em especial as pessoas não motorizadas;
■A expectativa do direito à via e da preferência do seu automóvel, em detrimento dos outros usuários e em especial as pessoas não motorizadas;
■A idéia de que ter mais pressa ou achar que seu deslocamento é mais importante que o do outro deveria justificar a preferência de circulação.

O ponto que quero destacar é que, se temos um problema crônico em nosso trânsito, do qual uma manifestação extrema foi a atropelamento em Massa, é FUNDAMENTAL que o problema seja analisado, e que os fatores contribuintes sejam EXPLICITADOS E EXPLICADOS. Continua


Veja também:
- Atropelamento coletivo pode ter sido intencional (Jornal da Pajuçara Noite- 21/02/2011)
- Dois acidentes com ciclistas são registrados nesse domingo (Bom Dia DF - 21/02/2011)
- Da Matta: atropelador foi cavalo usando cavalos de potência