25.03.2011
Quando estive em Copenhague para cobrir a COP15, aluguei um apartamento em um bairro um pouco mais afastado da cidade. Caminhava duas quadras do apartamento até a estação do metrô. A rua, pequena, tinha um condomínio. Todos os apartamentos tinham bicicletas. Copenhague é uma das cidades mais preparadas para o ciclismo cotidiano do mundo.
Todas as entradas tinham mais de uma bicicleta. Algumas bikes pertenciam claramente a casais sem filhos. Casais com filhos pequenos tinham bicicletas com carrinho de bebê acoplado, às vezes dois. Vários tinham triciclos que podiam carregar crianças maiores, compras e volumes até um determinado porte. Havia portas em que víamos bicicletas de adultos e de crianças.
No trajeto do apartamento ao aeroporto, em todas as ruas víamos grande quantidade de bicicletas. Caminhávamos ao lado da ciclovia, protegida da rua por onde passavam os carros. Por ela não paravam de passar ciclistas de todas as idades. Na estação do metrô havia um estacionamento só para bicicletas, sempre repleto de bicicletas dos mais variados tipos. Alguns levavam as bikes no metrô, provavelmente porque o local para onde iam ficava distante da estação. Ninguém achava estranho ou incômodo.
Era evidente que Copenhague era uma cidade onde o hábito da bicicleta fazia parte do cotidiano de grande número, se não da maioria das pessoas.
Estive em Nova York, logo que o prefeito Bloomberg nomeou Jeanette Sadik-Khan Comissária de Transportes da cidade. Uma ciclista habitual, Sadik-Khan resolveu redesenhar ruas importantes da cidade, como a Broadway, para construir um sistema de ciclovias que circunda toda a ilha de Manhattan. O programa é mais amplo, vai além das bicicletas e tem por objetivo promover a segurança, a mobilidade e a sustentabilidade em toda a cidade. Ela administra um orçamento de mais de US$ 2 bilhões por ano. Outra iniciativa importante foi determinar a troca de toda a frota de táxis para veículos híbridos e elétricos. Nessa minha primeira ida, tive que me esforçar um pouco para só pegar os novos táxis. E ouvi muita reclamação dos motoristas.
O começo me pareceu uma tremenda ousadia, que dificilmente iria muito longe. O trânsito de Nova York sempre foi caótico, difícil e nervoso. Estreitar uma rua importante como a Broadway, fechar outras à passagem de veículos motorizados, forçar a renovação de toda a frota de táxis e limusines para veículos híbridos e elétricos me parecia impossível.
Voltei um ano depois e vi que era ousadia, mas era viável. A Broadway havia virado Broadway Boulevard, com uma pista só para veículos motorizados, espaços generosos para pedestres e uma ciclovia que dava vontade de pegar uma bike e passear por ela, apesar do frio. Era fácil pegar um táxi híbrido ou elétrico. Não ouvi mais reclamações de motorista.
Aliás, Sadik-Kahn passou a fechar várias ruas para organizar passeios de bicicletas e os relatos dos ciclistas nova-iorquinos é que eles passaram a conhecer uma outra Nova York. Viram prédios, monumentos, afrescos, portas e portões verdadeiras obras de arte, que nunca haviam reparado antes. Continua