segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Nunca houve um cineasta como Akira Kurosawa

Via Blogs da Folha
Por André Barcinski
15.12.2011



De vez em quando, aqui em casa, fazemos uns ciclos dedicados a certos cineastas. Estamos bem no meio de uma “fase Kurosawa”, assistindo, em ordem cronológica, a todos os filmes disponíveis do mestre.

Assistir a Kurosawa em DVD não é o ideal. Suas imagens foram feitas para a tela grande. Mas hoje, infelizmente, é difícil ver esses filmes em cinema.

Dei muita sorte: no fim dos anos 80, o Estação Botafogo fez uma retrospectiva completa de Kurosawa. Tive a chance de ver tudo em cinema.

Filmes de Kurosawa são impossíveis esquecer. Trazem sequências visualmente impactantes e temas memoráveis.

Fiz uma lista dos meus dez filmes prediletos do gênio, em ordem cronológica. Faça sua lista e compare.

Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre (1945)
Um filme curto (menos de uma hora de duração) e lindo, sobre um grupo de peregrinos que se fingem de monges para passar por uma barreira.

Rashomon (1950)
Filme que revelou Kurosawa ao mundo. Numa tarde chuvosa, homens se abrigam para se proteger da tempestade e começam a conversar sobre um crime. O filme tem uma estrutura narrativa copiada incontáveis vezes depois, com a mesma história sendo contada de vários pontos de vista diferentes. Quando John Ford encontrou Kurosawa, depois de assistir a “Rashomon”, disse ao japonês: “Você realmente gosta de chuva.” E Kurosawa, que idolatrava Ford, respondeu: “E você realmente assistiu a meus filmes.”

Viver (1952)
Um velho burocrata descobre que tem poucos meses de vida e resolve dedicar seus últimos dias a fazer o bem, mas precisa enfrentar a teia burocrática que ele próprio ajudou a criar. Dilacerante.

Os Sete Samurais (1954)
Um dos filmes mais influentes da história do cinema. Sete guerreiros são contratados por uma pequena vila para defendê-la de ataques de bandidos. Kurosawa faz sua versão dos faroestes de John Ford, num filme que, curiosamente, acabou influenciando o western americano, sendo adaptado por John Sturges em “Sete Homens e um Destino” (1960).

Trono Manchado de Sangue (1957)
Meu filme favorito de Kurosawa, essa adaptação de “Macbeth” traz algumas das imagens mais fortes da carreira do cineasta, como a célebre sequência da “floresta que anda” e a cena final, que até hoje arrepia. Uma obra-prima.

Yojimbo (1961)
Toshiro Mifune faz um samurai que se infiltra em duas gangues rivais de bandidos para colocá-las uma contra a outra. Sergio Leone fez sua versão em 1964, chamada “Por Um Punhado de Dólares”, com Clint Eastwood no papel do “Homem sem Nome”.

Sanjuro (1962)
Sequência de “Yojimbo”, com Toshiro Mifune reprisando o papel do samurai. Assistir aos dois filmes na sequência é garantia de diversão.

Céu e Inferno (1963)
Kurosawa adaptou uma história de Ed McBain, cultuado autor policial americano, sobre um poderoso executivo (Toshiro Mifune) que tem o filho seqüestrado. Há uma sequência filmada num trem, que é uma das coisas mais inventivas e geniais que já vi em um filme. O grande escritor de romances policiais James Ellroy disse que “Céu e Inferno” é um de seus “thrillers” prediletos.

Dersu Uzala (1975)
Um dos momentos mais marcantes da minha adolescência foi ter visto esse filme na Cinemateca do MAM. Um explorador russo na Sibéria encontra um nativo, Dersu Uzala, que se oferece para ser seu guia. Não consigo imaginar um filme mais bonito sobre a natureza e a descoberta de novas culturas.

Ran (1985)
Kurosawa faz mais uma adaptação de Shakespeare, dessa vez de “Rei Lear”. É seu último grande filme e tem algumas das imagens mais bonitas da carreira do gênio. Se existe um filme feito para a tela grande e som alto, é “Ran”.

fonte