quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O recado dos deuses do futebol

Via Veja
Por Augusto Nunes
21/12/2011

Poderia ter sido qualquer time brasileiro, ou qualquer seleção formada depois de 1982. Mas os deuses dos estádios entenderam que não haveria portador mais credenciado que o Santos para o recado aos habitantes do que foi ─ até perder o rumo e a alma ─ o País do Futebol. Em 90 minutos (mais de 70 com a bola nos pés, o restante do tempo preparando-se para retomá-la), o campeão do Mundial de Clubes fez, a rigor, o que fizeram Pelé e seus parceiros de espetáculo na seleção de 1958, na seleção de 1970 e no Santos dos anos 60. “Pelo que ouvi do meu pai, os brasileiros jogavam assim”, disse depois da goleada o técnico Pep Guardiola. O Barcelona é a versão moderna daquele Santos que transformou numa forma de arte a velha e brasileiríssima pelada.

O que se viu na manhã de domingo, a rigor, foi uma sublime pelada regida por 11 craques. E os 4 a 0 em Yokohama (que poderiam ter sido 6, 8, 9 a 0) liquidaram muito mais que um adversário sem chances desde o primeiro segundo. Liquidaram os técnicos medrosos, as táticas retranqueiras, a discurseira defensivista, o cabeça de área, o volante que só desarma, o centroavante de ofício, o chutão do goleiro em direção ao imponderável, o jogo aéreo, o zagueiro que rifa a bola, o carrinho homicida, o atacante que não volta para marcar, os brucutus que trocam golpes de luta-livre na hora do escanteio e outras flores do buquê de cretinices tropicais.

A superioridade de dimensões amazônicas também desmoralizou os cartolas que desprezam as equipes de base para caçar medalhões em fim de carreira, que demitem o técnico depois de cinco derrotas, que desmontam a equipe vencedora depois do título conquistado, que acham que o importante é ganhar, mesmo com um gol de mão aos 47 do segundo tempo.
Continua




Final Mundial de Clubes 2011