domingo, 12 de setembro de 2010

Para não falar da campanha eleitoral

Via O Eco
Por Marcos Sá Correa
07.09.2010

Luta de casal para preservar litoral catarinense nos lembra que sob as borbulhas superficiais da política existem obras anônimas

O físico Germano Woehl Júnior escreve de Guaramirim para dizer que "conseguimos" adiar por sete anos a morte de uma restinga no litoral catarinense.

"Nós" quem? Ele sempre põe os verbos na primeira pessoa do plural, o que dá ao destinatário a ilusão de que faz parte da história. Antes de ler o resto, qualquer um acha que conseguiu evitar algum estrago em lugares que mal consegue ver no mapa, sem a providencial ajuda do Google Earth. Basta abrir a mensagem para constatar que "nós" é ele. Ou melhor, ele e a mulher, Elza Nishimira Woehl, que divide com o marido essas pequenas vitórias solitárias, exclusivas de quem nasceu para investir dinheiro e energia em causas que, soltas na correnteza das opiniões majoritárias, estariam, por definição, perdidas.

Não poderia ser menos majestático o plural de Woehl. Resume-se ao que os dois, sozinhos, conseguem fazer - como salvar a tal restinga entre Guaramirim e Araquari. É um tipo de floresta que lembra em miniatura a amazônica, "inundada a maior parte do ano, com árvores gigantes como o olandi e o ipê-caixeta" que, como o breve texto não se esquece de informar, também atende pelo apelido de "pau-tamanco", como convém a uma espécie "explorada predatoriamente para fazer tamanco, artesanato, lápis".

O fragmento é modesto. Mas ali o casal encontrou três anfíbios endêmicos, que aparentemente não existem em outros lugares do Estado. E, sete anos atrás, a mata estava condenada ao corte raso, por fazendeiros empenhados em abrir pastos.

Coisa de gente grande. Um deles é dono do maior frigorífico de Jaraguá do Sul, o centro industrial da região.

Denunciá-los aos órgãos ambientais e ao Ministério Público foi uma dessas imprudências que beiram a maluquice. Os Woehl foram até ameaçados por capangas. Mas levaram para lá os fiscais. Com os fiscais vieram as autuações. E um promotor de Araquari acabou comprando a briga. Por enquanto, a restinga venceu. Continua