domingo, 29 de maio de 2011

Berta Lange de Morretes, a bióloga que leciona na USP há 70 anos

Via Estadão
Por Mariana Mandell
29.05.2011


Jonne Roriz/AE

Exemplo. Berta, na sala que ocupa há 50 anos na USP:
aulas na graduação e pós-graduação

De dentro dos prédios da Universidade de São Paulo (USP), a professora Berta Lange de Morretes viu Adolf Hitler provocar a Segunda Guerra Mundial; o mundo se dividir em blocos econômicos durante a Guerra Fria; o Brasil passar por uma ditadura militar de mais de 20 anos; as mulheres conquistarem direitos; e os Estados Unidos ganharem seu primeiro presidente negro. Aos 93 anos, ela está completando 70 como docente na mais prestigiada instituição de ensino superior do País.

Na USP, o professor se aposenta aos 70 anos. Mas, caso queira, pode continuar - só que de forma voluntária. Ou seja: ele não recebe nada por isso. Especializada na área de botânica, mais especificamente em anatomia vegetal, Berta ainda leciona: dá aulas em uma turma de graduação e duas de pós-graduação - e também desenvolve pesquisas. E não pensa em parar. "Estou estudando o efeito de radiações ionizantes sobre a estrutura dos órgãos das plantas", conta.

Berta ingressou na USP em 1938, na primeira turma do curso de História Natural (hoje, Ciências Biológicas). Formou-se em 1941 e nunca mais abandonou o Instituto de Biociências (IB) da universidade. Mesmo caminhando com dificuldade - sofreu um acidente há 15 anos, quando um ônibus do qual descia acelerou -, ela faz quatro excursões por ano com os alunos. "Eles vão à mata, colhem as plantas e trazem para mim. Explico dentro do carro", conta com a voz mansa, com um pouco de sotaque.

Nascida em 28 de junho de 1917, na cidade de Iffeldorf, na região dos lagos da Alemanha, Berta veio para o Brasil, mais precisamente para Curitiba (PR), aos 2 anos. Foi criada em uma casa onde o respeito às artes, à natureza e às pessoas era primordial. Seu pai, brasileiro, foi à Europa estudar zoologia e artes. A mãe deu aulas de canto para Jair Rodrigues e de empostação de voz para a atriz Irene Ravache.

O interesse por plantas e animais veio dos passeios que fazia com a família. "Criança, sempre que vê bicho, quer pisar, mas meu pai dizia: "Não pode, ele sente dor como você"", lembra. "Se a gente não obedecesse, ele nos dava um puxão para mostrar que doía mesmo." Continua

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