terça-feira, 17 de maio de 2011

São Paulo: Os problemas da maior cidade do Brasil são tema de dossiê publicado na revista Estudos Avançados

Via EcoDebate
17.05.2011

Desafios de São Paulo hoje -Tão grandes quanto a dimensão alcançada pela capital paulista são a amplitude e a complexidade dos problemas que a metrópole tem a enfrentar. Eles estão em todas as áreas: transporte – com reflexos sentidos por todos na (i)mobilidade urbana –, habitação, água, lixo, saneamento e tantas outras. Refletir sobre essas dificuldades é o propósito do Dossiê São Paulo, Hoje, publicado na edição 71 da revista Estudos Avançados, lançada pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Na apresentação, os próprios editores reconhecem que não por acaso os artigos reunidos no volume “convertem os seus temas em problemas”. “Seja qual for o aspecto escolhido, o tratamento conduz à forma do desafio. A cidade é um nó de impasses. Qual a terapêutica, feito o diagnóstico?”
Em seu artigo, Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e ex-vereador paulistano, afirma que “é evidente que São Paulo, assim como as outras metrópoles brasileiras, não pode continuar crescendo a partir do modelo urbano que hoje vigora”. “A desigualdade urbana, funcional e social se aprofunda, gerando uma cidade partida e segregada”, prossegue.

Bonduki reconhece que reverter o modelo em curso “exige muita determinação do poder público, até mesmo para tomar medidas pouco populares e que, certamente, poderão contrariar interesses econômicos”. Isso vai requerer que a sociedade formule um amplo pacto “gerado por um processo participativo, de modo que os cidadãos mais conscientes se tornem defensores dos principais eixos de transformação”. Para o professor, a chave para essa “verdadeira revolução urbana é dar melhor aproveitamento e distribuição para os recursos que temos, evitando o desperdício, o consumo exagerado e a opulência”.

“Decadência” – Segregação e desigualdade são também os temas de Flávio Villaça, professor aposentado da FAU, que defende que os alardeados processos de “decadência” e “deterioração” das áreas centrais da cidade na verdade embutem pressupostos ideológicos: a própria classe dominante, que dissemina esses conceitos, abandonou o centro, “dele retirando suas lojas, escritórios, cinemas etc., e mesmo suas moradias”, aponta. Da mesma forma, essa classe alardeia a visão de que o centro está se deslocando para áreas como a avenida Paulista ou a região da avenida Faria Lima, e de que a suposta decadência do centro está associada à velhice e à obsolescência dos edifícios centrais. “Se a idade dos edifícios fosse uma importante causa da ‘decadência’ dos centros, o que seria dos centros de Roma, Paris, Berlim, Madri ou Londres?”, pergunta.
O tempo e o espaço urbanos, acentua Villaça, não são obras da natureza, mas produtos do trabalho humano. “A obscena desigualdade que existe na sociedade brasileira se manifesta na enorme segregação que se observa em nossas cidades. Essa segregação cria um ônus excepcional para os mais pobres e uma excepcional vantagem para os mais ricos”, considera. Continua