Por Germano Woehl
19.05.2011
O título deste artigo é o tema do novo vídeo “História do CAP & TRADE” lançado pela ONG norte-americana que produziu “A história das coisas”, que critica o mercado de carbono, citando o exemplo da Indonésia onde estão devastando as florestas tropicais, riquíssimas em biodiversidade, para plantar árvores e gerar créditos para o mercado de carbono.
Quando li um artigo com o alerta de que o mercado de carbono representava uma ameaça aos ecossistemas, não levei a sério. Não acreditava que o ser humano pudesse ser tão perverso. Porém, mudei de ideia quando fui procurado por uma dessas empresas que neutralizam carbono que fez proposta de parceria na prospecção de áreas para plantar árvores. Eu expliquei que o desmatamento na Mata Atlântica é intenso, que está muito difícil salvar as matas preservadas que restam e todo o esforço deveria ser empreendido para salvá-las. A resposta, muito sincera, deles para aliviar minha angústia foi decepcionante: “Não se preocupe! Deixe que os proprietários desmatem estas matas de árvores velhas que não servem para nada, não sequestram carbono, e plante árvores novas que vão ajudar o Planeta a combater o aquecimento global e gerar renda para os proprietários”.
Esta é a lógica por trás de qualquer campanha para “ajudar” a natureza, que vão de reciclagem até a milionária indústria da “restauração” de matas ciliares e corredores ecológicos. Ignora-se a realidade do ritmo alucinante de desmatamento na mesma região onde estes milionários projetos de restauração são implantados.
Centenas de quilômetros de matas ciliares são destruídas todos os dias sem que ninguém se importe porque o combate à devastação não dá dinheiro, não gera renda para as comunidades, só encrenca para o doido que se preocupar com estas “bobagens” de perda de biodiversidade, manutenção da integridade de ecossistemas etc. Recursos para a fiscalização do IBAMA combater a devastação não tem, mas para a milionária indústria da “restauração” está sobrando. Quanto mais devastação, mais dinheiro se ganha.
No ano passado o BNDES deu R$ 2,5 milhões (dinheiro público) para um projeto de implantação de um bosque de 50 hectares em Minas Gerais, um estado que desmata mais de 12.000 hectares por ano de Mata Atlântica, puxados pelo desenvolvimento que o próprio BNDES incentiva financeiramente. Na propaganda, o BNDES ilude a sociedade, passando a ideia de que um bosque de árvores plantadas compensa a destruição um ecossistema tropical de Mata Atlântica com milhares de espécies de plantas e animais para fornecer carvão para as siderurgias. Do ponto de vista educativo, com esta proposta de plantar um bosque para supostamente compensar a devastação, dá um péssimo exemplo para as pessoas ao minimizar a gravidade que é destruir um ecossistema e aniquilar toda sua biodiversidade.
A fonte destes recursos para satisfazer o ego e alimentar a ignorância de poucos com a implantação de bosques e sustentar a milionária indústria da restauração é uma só: o bolso do contribuinte. Não seria mais racional primeiro deter a devastação da Mata Atlântica destinando estes recursos milionários à fiscalização do IBAMA? O órgão está à míngua, com salários defasados que tira a motivação dos funcionários e sem estrutura adequada de pessoal e equipamentos.
O mais bizarro de todos os exemplos da moda de salvar o planeta e ganhar dinheiro é uma campanha de internet chamada de Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. Com este ritmo de devastação da Mata Atlântica alucinante, totalmente fora de controle, não seria mais óbvio um pacto para salvar o que resta? Qualquer fragmento de mata está sendo atacado impiedosamente. Constatei isso até aqui, em São José dos Campos (SP), quando visitei recentemente quase todos os fragmentos de Mata Atlântica nos arredores da área urbana, o que não foi difícil porque são apenas alguns. Em todos eles, constatei que estão sendo destruídos aos poucos com supressão paulatina das árvores maiores e o sub-bosque destruído com o uso frequente de roçadeiras. Continua