terça-feira, 31 de maio de 2011

Com cigarro na mão, claro! - Adelidia Chiarelli


2011. Final de fevereiro. Fui acometida por uma forte gripe. Forte mesmo. Tossia desesperadamente. Com cigarro na mão, claro! Pela primeira vez na minha vida, resolvi procurar um médico por causa de uma gripe. Não dava para continuar tossindo daquele jeito.

O médico me receitou antibiótico, xarope e etc. Piorei. Muito. Fiquei três dias sem dormir, tossindo dia e noite. A tosse era tanta que tive distensão da musculatura abdominal. Com cigarro na mão, claro!

Voltar ao médico? De maneira alguma! O que ele poderia fazer? Receitar outro antibiótico... Não! O único jeito de interromper aquela tosse seria parar de fumar pelo menos por dois dias! Mas como? E a coragem? Para uma pessoa que dizia ter nascido fumando, onde encontrar coragem? Bem, a única coisa que eu sabia era que daquele jeito não dava para continuar. Muito ansiosa, com cigarro na mão, claro!, me dirigi a uma farmácia e comprei uma caixa de adesivos, com os quais tentaria repor a nicotina por dois dias.

Ao chegar em casa, retirei força do meu próprio desespero e coloquei o primeiro adesivo no braço, certa de que meu desespero iria aumentar muito. Afinal, fumante por décadas, jamais havia passado um dia sem muitos cigarros.

Para minha surpresa – e bota surpresa nisso!-, a minha ansiedade que sempre foi imensa, diminuiu muito naquele primeiro dia com o adesivo de nicotina. No dia seguinte, continuou diminuindo. A tosse? Sumiu! Como por milagre, sumiu! Foi aí que me ocorreu uma idéia, inconcebível até aquele momento: continuar com os adesivos e ver quanto tempo conseguiria ficar sem colocar cigarro na boca. E foi exatamente o que fiz.

Com acompanhamento médico, passei pelas fases do tratamento com os adesivos que repõem nicotina e... sobrevivi. Firme e forte? Nem tão firme, nem tão forte, mas sobrevivi. Faz quatro meses que não ponho cigarro na boca. O que aconteceu comigo de concreto? Então vamos lá: durmo melhor, muito melhor. Minha ansiedade diminui muito, mas muito mesmo. Na realidade, foi muito mais fácil do que eu imaginava. O que digo para mim e para os amigos é que não deixei de fumar, apenas interrompi minha vida de fumante, e espero que esta interrupção dure, pelo menos, vinte anos. Só então me considerarei uma quase ex-fumante.

Mas nem tudo são flores. Às vezes sinto uma vontade imensa de fumar. O que faço nessas horas? Inspiro profundamente e penso naqueles dias em que quase enlouqueci de tanto tossir. Se a vontade passa? Não, não passa de todo, mas eu simplesmente me nego a colocar de novo um cigarro na boca. Vários amigos, amigos chegados, fumantes, que sabem da minha dependência absurda por nicotina me dizem: “Se você está conseguindo, eu também conseguirei!” Sinceramente? Espero, sim, que eles consigam largar o cigarro. Eu? Eu apenas interrompi minha vida de fumante.


Adelidia Chiarelli




The Depths of a Year by Ehren Starks