domingo, 16 de janeiro de 2011

Destruição no Vale do Cuiabá ocorreu dentro de APPs

Via ECOCIDADES
Por Raul Bueno, arquiteto e urbanista
14.01.2011


Vale do Cuiabá
A seta indica as construções irregulares, dentro da APP. Clique e explore o mapa - fonte: Google Earth


Um trecho de 3 quilômetros do vale foi devastado pela transbordamento do rio Cuiabá. A maior parte das vítimas fatais no município de Petropólis estavam lá. A contagem até agora é de 41 mortos e 22 desaparecidos.

A imagem acima, extraída do Google Earth e editada em Autocad, mostra que, na área mais afetada, existiam inúmeras construções dentro da APP (Área de Proteção Permanente), onde o código florestal brasileiro, proíbe edificações. No caso de rios com até 10 metros de largura, a APP exige um afastamento de 30 metros de cada margem do rio.

A linha azul assinala o curso do rio Cuiabá. E as duas linhas laranja delimitam os limites da APP. Veja a quantidade de casas dentro desses limites. A imagem fala por si só.

A pousada Tambo los Incas — que foi submersa e destruída pelas águas — ficava pouco abaixo desse ponto. Medindo pelo Google Earth, a pousada estava a 42 metros do rio, portanto fora da APP. A margem de erro dessa medição é de 1 a 2 metros.


Tambo los Incas: poucos metros fora da APP. Ainda assim, devastada. Clique e explore o mapa.

No caso do Vale do Cuiabá, estreito e íngreme, um estudo mais apurado, feito por um hidrólogo, provavelmente demarcaria uma faixa bem maior que a distância mínima exigida pelo código florestal. O código está em vigor desde 1965. Algumas propriedades são anteriores a ele. O resto é crime.






Trecho do artigo
Não é a chuva que deve ir para a cadeia,
escrito por Marcos Sá Correa,
publicado no O ECO:

"No dia em que um prefeito, olhando as nuvens no horizonte, enxergar a mais remota possibilidade de ir para a cadeia pelas mortes que poderia impedir e incentivou, as cidades brasileiras deixariam aos poucos de ser quase todas, como são, feias, vulneráveis e decrépitas. De graça, ou com o dinheiro virtual do PAC, os políticos não consertarão nunca a desordem que os elege.

Não adianta ameaçá-los com ações contra o Estado ou a administração pública, porque o Estado e a administração pública, na hora de pagar a conta, somos nós, os contribuintes. O remédio é responsabilizar homens públicos como pessoas físicas pelos crimes que cometem contra a vida. Às vezes em série, como acaba de acontecer na Região Serrana do Rio de Janeiro.

O resto é conversa fiada."