quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Venenos agrícolas matam, artigo de Julio Cesar Rech Anhaia

Via Portal Ecodebate
12.01.2011


“Nós permitimos que esses produtos químicos fossem
utilizados com pouca ou nenhuma pesquisa prévia
sobre seu efeito no solo, na água, animais
“selvagens e sobre o próprio homem”.
(Primavera Silenciosa – Silent Spring Rachel Carson)


O termo “veneno’’ deriva da experiência concreta do trabalhador rural, e em nossa opinião, constitui a mais digna e acurada denominação para tais produtos, que, desde o inicio da utilização dos biocidas no meio rural, vem observando além de seus efeitos previstos, matarem pragas, também seus efeitos nocivos à saúde humana e animal.


A tecnologia imposta pela Revolução Verde, a partir dos anos 60, fundamentada na melhoria do desempenho dos índices de produção agrícola, e disseminada entre os agricultores maximizou, num primeiro momento, a produtividade, porém criou estreita dependência a essa tecnologia, fazendo aumentar o custo da produção agrícola.

Socialmente, a Revolução Verde representou uma grande ilusão, pois aumentou a concentração de terra e tornou precária a vida dos pequenos agricultores descapitalizados, como também não solucionou o problema da fome no mundo.

Ambientalmente, essa revolução provocou intenso processo erosivo, perda da fertilidade dos solos, perda da diversidade genética e utilização de matriz energética fóssil, altamente poluente, contaminação dos recursos hídricos, solo, alimentos, animais e o próprio homem, pelos venenos agrícolas.

Por aqui, desde o século passado, eram utilizados venenos caseiros, à base de soda cáustica, querosene, carvão mineral, azeite de peixe, entre outros produtos. Até a década de 40, deste século, foram muito utilizados produtos botânicos, piretro, rotenona e nicotina, que eram até exportados. Venenos inorgânicos também foram usados, como o sulfato de tálio, cianeto de cálcio, carbonato de bário e sulfato de cobre, este até hoje sendo utilizado.

A difusão do uso de venenos agrícolas, para o controle de pragas e plantas invasoras na agricultura brasileira, foi favorecida pelo sistema de crédito rural, colocando-os definitivamente no cotidiano dos trabalhadores rurais. Para tanto, o Banco do Brasil tornou obrigatória a destinação de 15% do valor de empréstimos de custeio para aquisição de agrotóxicos, significando dessa maneira, o aval do governo para a ampliação do mercado e preservação financeira à indústria química.

Os venenos agrícolas destroem a vida do solo, principalmente os herbicidas, que eliminam algas, fungos, impede a formação das micorrizas. Os herbicidas bloqueiam, ainda, a atividade de enzimas deshidrogenases, específicas para decomposição da palha (resteva), impedindo, portanto, a formação de húmus. Sabe-se que bactérias existentes no solo como Rizhobium e Azospirilo, ou ainda Azollas, sintetizam nitrogênio do ar, cedendo grande quantidade deste elemento às plantas. Esta oferta gratuita é impedida pelos herbicidas, mesmo em pequenas doses, pela eliminação destas bactérias úteis. Fora isso, outros venenos agrícolas contaminam o solo e exterminam a vida.

Os venenos agrícolas estão entre os mais importantes fatores de risco para a saúde dos trabalhadores e para o meio ambiente. Utilizados em grande escala por vários setores produtivos e mais intensamente pelo setor agropecuário, são ainda utilizados na construção e manutenção de estradas, tratamentos de madeiras para construção, indústria moveleira, armazenamento de grãos e sementes, produção de flores, combate às endemias e epidemias, como domissanitários etc. Enfim, os usos desses produtos excedem em muito aquilo que comumente se reconhece. Dentre os trabalhadores expostos destacam-se, além dos trabalhadores rurais, os da saúde pública, de empresas desinsetizadoras, de transporte, comércio e indústria de síntese. Ressalte-se ainda, que a população em geral também está exposta, seja através de resíduos em alimentos, de contaminação ambiental ou acidental.

Do ponto de vista ambiental, um dos principais problemas causados pelo uso intensivo dos venenos agrícolas é a eliminação de insetos benéficos, chamados inimigos naturais, que contribuem para manter o equilíbrio ecológico. Continua


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