Por Cláudia Trevisan
02.01.2011
Desmatamento e exploração excessiva da água aumenta a desertificação e ameaça cerca de 400 milhões de chineses que vivem em uma das regiões mais secas do país
O camponês Shen Mindao tem 44 anos e desde que pegou em uma enxada pela primeira vez trava uma luta contra o avanço do deserto, que está a 500 metros do pequeno pedaço de terra onde planta algodão e cereais. Cada vez mais próxima, a imensidão de areia só não encobriu a lavoura graças a uma precária barreira de árvores e arbustos secos que Shen e seus vizinhos plantaram nos últimos anos.
Desde a década de 50, a China perdeu para a desertificação 385,7 mil km², o equivalente às áreas somadas dos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro, em um processo que tem sua origem no desmatamento e na exploração excessiva ou inadequada do solo. A transformação de terra fértil em terreno estéril não ameaça apenas Shen e os demais moradores de Minqin, um antigo oásis que está sendo engolido pela areia em Gansu, província árida e pobre, uma versão chinesa do sertão brasileiro.
Outras regiões do norte do país têm o mesmo problema. A ONU estima que 400 milhões de chineses vivam em áreas sob risco de desertificação. Milhares de pessoas já deixaram suas casas em razão da degradação do solo e da falta de água. Em 2005, o vice-ministro do Meio Ambiente, Pan Yue, disse que 186 milhões de chineses de 22 províncias, uma população parecida à do Brasil, serão obrigados a migrar em razão de problemas ambientais, entre os quais a desertificação. Continua