Por Jamil Chade
01.05.2011
Onda de refugiados causada pelas revoltas na Líbia e na Tunísia leva países do continente a pedir revisão de acordos de livre circulação
Da janela de seu quarto no centro de acolhimento para imigrantes irregulares em Ventimiglia, Sami vê todos os dias trens repletos de carros novos da Fiat sendo transportados para serem vendidos na França. "O fluxo de carga pela Europa funciona perfeitamente, sem barreiras", comentou o imigrante e ex-estudante de direito em Túnis. "Pena que o mesmo princípio não se aplique às pessoas", lamentou.
Depois de décadas de construção de um continente sem barreiras internas, a guinada política da Europa à direita fez com que a UE voltasse a falar abertamente pela primeira vez em meio século em reerguer fronteiras. A pressão por novas barreiras aos imigrantes era latente, principalmente diante da crise econômica dos últimos três anos. Mas foi a chegada de 25 mil refugiados da Tunísia e Líbia que deu a oportunidade para que governos lançassem propostas oficiais de revisão de um dos pilares da UE - a livre circulação de pessoas.
A crise começou quando a Itália alegou que não poderia lidar com o fluxo de estrangeiros vindo desses países. Roma apelou para que os demais países europeus, principalmente a França, recebessem parte dos imigrantes, muitos deles de língua francesa. Então, foi a vez de Paris fechar suas fronteiras, deixando centenas na cidade fronteiriça de Ventimiglia há semanas. Continua