segunda-feira, 8 de abril de 2013

Por trás do cartão-postal, por Dorrit Harazim

Via blog do Noblat
07.04.2013

Dorrit Harazim, O Globo

Pelo jeito, algumas coisas só voltarão a ser o que são quando o carioca acordar na manhã de 22 de agosto de 2016, depois de apagada a tocha olímpica no Maracanã e a cidade tiver zerado a sua trepidante temporada de megaeventos. Até lá, para quem surfa no calendário de alta visibilidade da cidade — Jornada da Juventude, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos —, notícia ruim é tudo aquilo que mancha a imagem deste Rio efervescente.

Sob esta ótica, o estupro de uma estrangeira dentro de uma van em circulação no Rio, além de horripilante, foi indigesto. E acabou revelando, por mero acaso, a face até então oculta dessa modalidade de crime já inserida na vida carioca. Ela apenas não fora detectada pelo radar de proteção aos Grandes Eventos.

A história do horror pelo qual passaram dois jovens turistas estrangeiros na madrugada do sábado de Páscoa, 30 de março, correu o mundo. A americana de 21 anos e seu amigo francês, de 23, haviam embarcado numa van em Copacabana rumo ao bairro boêmio da Lapa, no centro do Rio. No caminho, foram aprisionados dentro do veículo pelo motorista e pelo cobrador, iniciando-se uma sequência de violências que durou quase seis horas.

Com um terceiro cúmplice embarcado no caminho, a van circulou por Niterói, São Gonçalo, novamente Copacabana, Itaboraí. O francês foi algemado, agredido e ameaçado com barra de ferro. A americana foi estuprada por todos. Por fim, se viram largados num ponto de ônibus da Região Metropolitana.

Assistidos por representantes de seus países, passaram por dois hospitais públicos — à jovem foi ministrado um coquetel de drogas contra doenças sexualmente transmissíveis e a chamada “pílula do dia seguinte”. Por fim, foi feito o boletim de ocorrência policial.

Decorridas menos de 14 horas, os dois primeiros suspeitos foram capturados e puderam ser apresentados à imprensa pela Delegacia Especial de Atendimento ao Turista. Três dias após o atentado, o terceiro acusado também já estava em mãos da polícia.

Ainda assim, nos gabinetes municipais, o episódio doeu. “Ficamos tristes e decepcionados”, disse Alfredo Lopes, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, verbalizando a reação dos mais preocupados com o “dano à imagem”. “Pela importância turística do local, nunca se espera um caso desses. Ninguém quer um assalto numa van em Bonsucesso ou no Complexo do Alemão, mas em Copacabana, cartão-postal famoso mundialmente!”

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Dorrit Harazim é jornalista.

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