sábado, 3 de agosto de 2013

Enterrados e esquecidos


JC e-mail 4782, de 02 de Agosto de 2013.
Enterrados e esquecidos


Arqueólogos descobrem misterioso cemitério do século 17 em Recife. Esqueletos ainda não têm identidade conhecida e levantam variadas hipóteses sobre sua origem

Trinta e oito esqueletos masculinos estendidos lado a lado sem roupas mortuárias ou artefatos. Foi com essa situação que uma equipe de arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Fundação Seridó se deparou ao fazer a escavação preventiva de uma área da favela de Pilar, em Recife, onde será construído um complexo habitacional do governo do estado. A identidade e o grupo cultural dos corpos ainda não foram desvendados pelos pesquisadores, mas suscitam diferentes hipóteses sobre sua origem e a evolução da cidade a partir do século 17.

A maioria dos esqueletos foi encontrada com os braços cruzados sobre o peito, o que indica que o local provavelmente era um cemitério organizado. Os corpos também não apresentam vestígios de roupas. Os arqueólogos acreditam que tenham sido enterrados com uma mortalha de tecido fino que já se degradou.

O achado veio justamente quando os pesquisadores da Fundação Seridó procuravam por um antigo cemitério de escravos que se acredita que tenha existido na região. A descoberta logo suscitou especulações entre a população, mas os pesquisadores ressaltam que ainda é cedo para fazer afirmações sobre quem eram os mortos.

"Temos certeza de que se trata de um cemitério porque estão todos os esqueletos na mesma posição, com crânio e bacia voltados para o leste, e no mesmo nível de profundidade, mas não podemos fazer muitas outras afirmações", disse a arqueóloga Manuela Matos durante a apresentação do estudo na 65ª Reunião Anual da SBPC. "Pela formação da arcada dentária, é muito provável que se trate de caucasianos, de origem europeia."

Uma das possibilidades levantadas é de que o local tenha sido um cemitério de judeus, que são tradicionalmente enterrados sem roupas. A hipótese ganha força por causa de registros históricos que indicam uma grande ocupação de judeus na região em torno no século 17.

Mas existe ainda a chance de se tratarem de trabalhadores do mar ou soldados. A ideia se baseia na grande quantidade de fraturas de ossos que poderiam estar ligadas a ambas as profissões. "Um dos esqueletos tem fratura da clavícula cicatrizada e quatro apresentam escoliose, o que indica que carregavam peso", disse o bioarqueólogo Sérgio Monteiro, da UFPE. "Outro tem um tumor ósseo na tíbia, provavelmente decorrente de queda e batida, e os dentes apresentam sinais de uso de cachimbo."

A teoria dos soldados tem ainda a seu favor a ausência de vestimentas, que poderia ser explicada pelo reaproveitamento dos uniformes e pelo fato de os sepultamentos estarem próximos do antigo Forte de São Jorge, construção bélica do século 16. Continua.