quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Como se vai às urnas de lenço no nariz

Via O Eco
Por Marcos Sá Correa
30.08.2010





Se há uma coisa que não está acontecendo pela primeira vez na história do País é essa mistura de ar seco, horizonte encardido e céu opaco que marca mais uma estiagem como a hora tradicional de botar fogo no mato.

Disso o entomólogo alemão Hermann von Burmeister se queixou há uns 200 anos, em suas viagens de pesquisa pelo interior do Brasil, onde “tamanha era a quantidade de fumaça que, durante dias ou mesmo meses, o Sol ofusca quase totalmente oculto e, se o vemos, ele é vermelho”.

É a mesma fumaça que nos amplia o entardecer com um festival de panoramas alaranjados, para alegria dos fotógrafos. Burmeister, mais crítico, vaiou o espetáculo, resmungando contra esse efeito especial equivalente a enxergar o mundo “através de um vidro enegrecido”, sem contar que, nessas ocasiões, a atmosfera dos trópicos ardia nos olhos, irritava as narinas e inflamava os pulmões.

O que ele viu foi o Brasil crescendo do jeito que sabe. No caso, estava diante de Burmeister a prosperidade do café no Vale do Paraíba, derrubando as florestas para abrir alas a uma festa que durou uma geração, deixando de herança barões falidos, casarões em ruínas e um mar de morros carcomidos que a posteridade até hoje não sabe como consertar.

Nisso, o Brasil está cansado de ter história. O que 2010 registra pela primeira vez nos anais da imprevidência política no País é o encontro das queimadas com uma campanha presidencial em que pelo menos uma candidata, Marina Silva (PV), tenta, em vão, discutir se é isso mesmo que os brasileiros querem daqui para a frente.

Pelo visto, sim. É pelo menos o que as pesquisas andam dizendo. Pobre Marina. Mais sufocante que o ar poluído e seco, só uma eleição conservada em índices tóxicos de pasmaceira conformista. O Brasil vai às urnas em um dos piores ciclos de seu desastroso currículo ambiental. E não está nem aí para isso.

Aos inconformados, como Sérgio Leitão, do Greenpeace, resta apontar a revoada de sinais agourentos em direção a caminhos sem saída. Este foi o ano em que o Código Florestal caiu em desuso, entregue a um Congresso que só ouvia a voz dos pequenos, médios, grandes e enormes agricultores, todos alegando que não dá para sobreviver no campo sem enterrá-lo.

A reforma sequer acabou. E o triunfo do fogo sobre o código mostra em que deu o movimento nacional para malhá-lo ainda em vida. Continua


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