Por Carlos Gabaglia Penna
27.09.2010
Questões como segurança alimentar e de que forma iremos dar de comer a cerca de nove bilhões de seres humanos em meados deste século encontram-se no centro dos debates sobre o futuro do planeta e o da nossa espécie. A produção de alimentos e as razões da fome renitente são temas mais complexos do que podem parecer à primeira vista. As duas principais dúvidas que afligem os interessados do assunto são as seguintes:
1) A produção mundial de comida é suficiente para alimentar a população global?
Atualmente sim. A Revolução Verde permitiu, desde a década de cinquenta, um aumento excepcional na produção agrícola, impulsionada por novas tecnologias, o que superou o também impressionante crescimento da população humana. Com o auxílio da eficiência crescente da pesca oceânica comercial – que está devastando os mares – e da expansão da pecuária (notadamente de animais confinados), praticamente o mundo todo come uma quantidade maior de alimentos per capita do que fazia há 50 anos.
Em que pese o aumento demográfico, todos os continentes conheceram, entre 1961 e 2003, um aumento da quantidade média de calorias ingeridas diariamente por seus habitantes, incluindo a África ao sul do Saara. Nesse continente, o progresso foi de apenas 6,1% contra a média de 38,8% do conjunto de países em desenvolvimento (dados da FAO). O mundo, como um todo, passou a ter à sua disposição praticamente 25% a mais de energia alimentar per capita nesse período. Claro, essa média esconde as disparidades (3.739 kcal/pessoa-dia na América do Norte versus 2.272 kcal/pessoa-dia na África, p. ex.). Mas, o fato é que em todos os continentes, as pessoas passaram a comer mais desde o início dos anos 1960.
O número relativo de pessoas subnutridas no planeta está em queda, embora em ritmo que se mostrou, nos últimos anos, insuficiente para reduzir o total dos famintos em valor absoluto. No início da década de setenta, 920 milhões tinham fome crônica, ou quase 25% da população global. Em 2003-2005, essa porcentagem havia declinado até 13%, equivalente a um pouco menos de 840 milhões de indivíduos (FAO). Dados deste ano indicam que os subnutridos, algo complexo de definir, somariam 925 milhões (World Food Programme), mas ainda abaixo de 14% da população mundial. Continua