quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A terra está secando e cresce a luta pela água nos Andes

Via EcoDebate
23.09.2010

Mudança climática. O Peru é o país que mais sofre com o aquecimento global no mundo. O Equador não fica atrás. Sobe a temperatura, as geleiras estão derretendo, mas há repentinas quedas de temperatura. Ameaça plantações e estilos de vida milenares.

A reportagem é de Silvina Heguy e está publicada no jornal argentino Clarín, 20-09-2010. A tradução é do Cepat.

Gumercinda Catunta faz tempo que anda com a intenção de “semear e colher chuva”. Mas quando vai pedir ajuda às autoridades de Pampamarca obtém sempre a mesma resposta: não há recursos.

Gumercinda repete seu pedido na praça do povo da província de Cuzco, no Peru. Ela tem 41 anos, três filhos e está parada sob o monumento que recorda que estas terras são as de Tupac Amaru e de sua companheira, Micaela Bastidas.

São as terras que fazem parte do país que mais sofre os efeitos da mudança climática no mundo e onde nem a ajuda do Estado nem dos países responsáveis pelo aquecimento global chega.

A mais de 3.800 metros acima do nível do mar, a falta de água, a retração das geleiras, as temporadas de estiagem, as repentinas quedas de temperatura, as épocas de chuvas cada vez mais curtas e intensas, os frios cada vez mais frios e o calor cada vez maior são as manifestações mais concretas da mudança climática, essas variações do tempo atribuídas direta ou indiretamente à atividade humana.

Gumercinda fala enquanto uma banda de música se faz ouvir dentro da municipalidade deste povoado situado a cerca de duas horas do centro turístico de Machu Picchu e anuncia a saída de um casal de recém-casados seguidos por um enxame de parentes e amigos e uma nuvem de papel picado, a única nuvem que se vê a milhares de quilômetros.

A mudança climática ameaça a vida da maneira como foi vivida durante anos na região de Cuzco.

“Antes sabíamos quando semear porque começavam as chuvas. Antes havia três mananciais de onde tirávamos a água para regar. Eles já não existem mais, mas há novas pragas e as batatinhas estragam”, enumera Roberto Lazo, um dos moradores que participa de um projeto que envolve 6.500 famílias com a finalidade de buscarem formas de adaptação à mudança climática. A Associação Ararina está encarregada de transmitir 24 técnicas não poluentes orientadas a melhorar a produtividade do solo, o manejo da água e sua conservação.

“Há três anos que as temperaturas são tão frias que nossos filhos adoecem de coisas nunca vistas. Além de sofrer de desnutrição, morrem de pneumonia”, conta Gumercinda. Continua

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