quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crescimento insustentável, artigo de Roberto Nicolsky



JC e-mail 3938, de 27 de Janeiro de 2010.
Crescimento insustentável, artigo de Roberto Nicolsky


"Exportamos cinco toneladas de soja ou quatro de minério de ferro pelo preço de um laptop, cuja produção gerou muito mais empregos e renda"

Roberto Nicolsky é físico e diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec). Artigo publicado no "Correio Braziliense":

Felizmente o Brasil superou os principais reflexos da recente crise econômica mundial. Mas mesmo assim a economia brasileira, que entre 2006 e 2008 cresceu a uma taxa média de cerca de 5% ao ano, em 2009 não repetirá esse desempenho e deverá até encolher um pouco, conforme as estatísticas irão mostrar. A questão a se discutir, portanto, é se o modo de crescer que o governo vem praticando é sustentável.

O crescimento brasileiro tem sido puxado pelos produtos agropecuários, extrativos e primários. São as chamadas commodities, de muito pouco valor por unidade física. Crescemos também produzindo para o mercado interno mediante a expansão do crédito, o que levou famílias a consumir mais, mas também a aumentar muito o seu endividamento.

O inconveniente desse tipo de crescimento é que ele se sustenta na ascensão econômica, bem mais acelerada, de outros países, como a China. Os preços de commodities são definidos pela demanda do mercado mundial, e se nos últimos anos têm estado elevados é porque a China compra muito. São fatores que fogem ao nosso controle e qualquer mudança pode paralisar o nosso crescimento, como aconteceu em 2009.

Esses fatores, em conjunto com a apreciação do real frente ao dólar, geram forte pressão de substituição da produção interna por produtos importados, principalmente aqueles de maior intensidade tecnológica e maior valor agregado. Ou seja, exportamos cinco toneladas de soja ou quatro de minério de ferro pelo preço de um laptop, cuja produção gerou muito mais empregos e renda.

A indústria brasileira de transformação, que agrega tecnologia e deixa o produto pronto para o consumidor final, está crescendo bem menos do que o PIB. A nossa economia é cada vez mais produtora de commodities agropecuárias e minerais, de produtos básicos e de serviços simples, como o comércio. Continua