quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O aquecimento por trás do frio

JC e-mail 4166, de 28 de Dezembro de 2010.
O aquecimento por trás do frio


Invernos rigorosos no Hemisfério Norte estão diretamente ligados a mudanças climáticas

O que as nevascas que assolam o Hemisfério Norte têm a ver com o aquecimento global? Tudo, de acordo com estudo publicado na "Journal of Geophysical Research", da União Geofísica Americana.

De acordo com pesquisadores do Instituto Potsdam, da Alemanha, invernos rigorosos (e eventos extremos relacionados a eles) podem ter a frequência triplicada na Europa e no norte da Ásia. O estudo foi focado nesta região, mas seus resultados podem ser extrapolados para os EUA, que também enfrentam uma forte onda de frio.

A conclusão do estudo parece estranha, dada a projeção de que a temperatura global pode subir quase 6 graus Celsius até o fim do século.

Mas, ao percorrer regiões livres de gelo do Oceano Ártico, cientistas descobriram que o calor causado pelo aquecimento global, responsável pelo degelo de calotas polares, paradoxalmente, aumenta a ocorrência de invernos severos na Europa e nos EUA.

O aumento da temperatura global reduziu a cobertura de gelo do Ártico em 20% nos últimos 30 anos. Existe o risco de que ela desapareça totalmente ainda este século, nos períodos de verão. Sem a cobertura de gelo, o calor deixa de ser refletido para a atmosfera, e a água, mais escura, passa a absorver o calor, ficando mais quente que o normal.

A água relativamente quente escapa para a atmosfera, cuja temperatura chega a 30 graus Celsius negativos.

- O oceano está muito mais quente que o ar ambiente nesta zona polar no inverno - explica Stefan Rahmstorf, pesquisador do Instituto Potsdam.

- Um fluxo quente, então, sobe para a atmosfera, o que não acontece
quando tudo está coberto de gelo. É uma mudança extraordinária.

Forma-se, assim, um sistema de alta pressão. Os ventos gelados dali são empurrados da região polar para a Europa - que antes era contemplada apenas por leves correntes de ar oriundas do oeste.

- Isso não é algo que se esperava - admite Vladimir Petoukhov, outro pesquisador envolvido no estudo. - Quem pensava que o encolhimento da capa de gelo a uma longa distância não nos incomodaria está errado. Há conexões complexas no sistema climático. Continua


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Jornal Nacional - 28.12.2010