sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Que fazer com nossas cidades?

Via Estadão, há 497 dias sob censura
Por Washington Novaes
10.12.2010

No momento em que estas linhas são escritas, continuam em Cancún, no México, as discussões no âmbito da Convenção do Clima, com escassas possibilidades de que até hoje à noite ou a madrugada de amanhã se consiga chegar a algum acordo sobre redução de emissões de poluentes obrigatório para todos os países - como já se comentou neste espaço na semana passada. Mas sucedem-se ali as discussões, até entre os que acreditam que novas tecnologias poderão conduzir às grandes soluções para o drama das mudanças climáticas e os que lembram que não se conseguirá caminhar por aí sem equacionar também o problema das desigualdades no consumo no mundo, com os países industrializados (menos de 20% da população mundial) respondendo por quase 80% do consumo de recursos e com um gasto per capita de energia muitas vezes superior ao dos países mais pobres. Sem falar, ainda, na questão da fome, que continua a afligir quase 1 bilhão de pessoas.


Mais um ângulo da discussão foi acentuado em Cancún por um relatório do Banco Mundial (Estado, 5/12), lembrando que as áreas urbanas do mundo, já com mais de 50% da população total, emitem dois terços dos gases e são a causa mais importante do agravamento das mudanças climáticas - o que sugere que não haverá solução adequada sem provê-las de energia "limpa" e renovável. "Precisamos de cidades mais verdes", diz o documento, repetindo o mote de mais de mil prefeitos num compromisso assinado em 2008 e não cumprido.

Outro estudo recente, do Prêmio Nobel de Química de 1998, professor Walter Kohn (Portal do Meio Ambiente, 23/9), lembra que o petróleo e o gás natural respondem hoje por 60% do consumo global de energia (somado o carvão, chega-se perto de 80%) e que a geração por esses caminhos ainda crescerá nas próximas décadas, com muitos países tentando aproximar-se do padrão de consumo dos EUA (que consomem, por exemplo, cinco vezes mais gasolina per capita que a média global). Mas ainda nesta primeira metade do século, pensa ele, as energias solar e eólica assumirão a vanguarda. Só na última década a fotovoltaica multiplicou a potência instalada em 90 vezes e a eólica, em dez vezes. Em dois anos (Envolverde, 10/11) as centrais termoelétricas a energia solar chegaram a 940 MW de capacidade instalada, principalmente na Espanha (onde há mais 28 em construção) e nos EUA.

Sempre que esse tema entra em discussão, é posto o argumento da inviabilidade das energias "alternativas" por causa do preço mais alto - que estaria aqui em R$ 290/MWh, ante R$ 120 nas centrais termoelétricas convencionais e R$ 85 nas hidrelétricas. Só que é uma conta na qual não entram as chamadas "externalidades" ambientais e sociais das fontes mais poluidoras, principalmente os custos que geram para os sistemas de saúde. Nos países onde os controles "ambientais" são mais severos, o avanço das energias renováveis é muito forte (Business Green, 24/8): na União Europeia, mais 8% em 2009, comparado com 2008, enquanto o gás recuou 10,1% e o carvão, 9,2%; a meta é chegar com as renováveis a 20% da matriz energética em 2020. Continua