quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A marca dos financiamentos do BNDES na Amazônia

Via O ECO
Por Bruno Fonseca e Jessica Mota
15.10.2013

hidreletrica-de-Dardanelos
A hidrelétrica-de Dardanelos concluída.
Foto: divulgação Governo Federal, junho de 2008


Esta reportagem produzida pela Agência Pública em parceria com o site O Eco faz parte de um projeto de investigação sobre os investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na região amazônica, tanto no Brasil, quanto nos países vizinhos. Os dados estão sendo coletados a partir das planilhas disponibilizadas pelo próprio BNDES em seu site, no setor “BNDES Transparente”, que datam a partir de 2008, e de outras fontes oficiais. Para esta matéria, foram selecionados apenas os investimentos destinados aos Estados que compõem a Amazônia Legal no Brasil, especificamente para o setor de infraestrutura (produção de energia; investimentos viários, ferroviários e portuários; mineração; saneamento básico; infraestrutura urbana; e implantação de plantas industriais). Nas próximas semanas, a Agência Pública e O Eco vão publicar mais reportagens e infográficos sobre os investimentos do BNDES na Amazônia.


Em uma das onze aldeias dos índios Arara do Rio Branco no noroeste do Mato Grosso, Anita Vela Arara, a mais velha da sua comunidade (tem 89 anos), está inconsolável. É que a “tia Nita”, como é conhecida, assistiu à construção de um gigante de concreto sobre o cemitério tradicional da aldeia, onde estavam alguns de seus familiares. Entre eles, sua mãe e sua avó. Segundo Audecir Rodrigues Vela Arara, um dos líderes indígenas e presidente do Instituto Maiwu, sua tia sabe quem é o culpado: a hidrelétrica de Dardanelos, obra de cerca de R$ 745 milhões, mais da metade desse valor financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Uma das primeiras menina-dos-olhos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, Dardanelos foi construída entre 2007 e 2011 no rio Aripuanã, tirando proveito do potencial hidrelétrico da área do Salto de Dardanelos, um complexo de cachoeiras com mais de 150 metros de quedas d'água que são o cartão-postal do município de Aripuanã. Há diversas espécies que só foram encontradas no local, como o peixe-chinelão, catalogado em 2011. Os estudos de impacto da hidrelétrica identificaram 316 espécies de aves, 133 de peixes, 50 de anfíbios e 67 de répteis que vivem na área afetada diretamente por Dardanelos. Além disso, segundo dados da Funasa, um grupo de cerca de 200 indígenas resistem na região, os Arara do Rio Branco, depois de quase terem sido dizimados nas décadas de 1950 e 1960 devido a epidemias de gripe e varicela, resultado do desastroso contato com seringueiros, ou por conflitos com grileiros, já na década de 1970. 

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