sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Animais experimentais são grandes responsáveis pela sobrevivência da raça humana no planeta, diz ex-coordenador do Concea


JC e-mail 4841, de 24 de outubro de 2013
Animais experimentais são grandes responsáveis pela sobrevivência da raça humana no planeta, diz ex-coordenador do Concea


Em entrevista exclusiva ao Jornal da Ciência, Renato Cordeiro, pesquisador da Fiocruz, fala da importância da experimentação animal para a ciência 


Pesquisador titular da Fiocruz, Renato Cordeiro foi o primeiro coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), criado pela Lei Arouca (Lei 11.794/ 2008), que regulamenta a criação e utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica no país. Nesta entrevista exclusiva para o Jornal da Ciência, ele fala das regras e da importância desse tipo de experimentação para a humanidade.

As declarações de Cordeiro serão utilizadas em matéria a ser publicada na próxima edição do Jornal da Ciência impresso. As reportagens abordarão diversos aspectos da invasão do Instituto Royal, em São Roque, a 59 quilômetros de São Paulo, na madrugada do dia 18 de outubro. Durante a invasão, ativistas de proteção dos animais levaram do instituto 178 cães da raça beagle e sete coelhos, deixando para trás centenas de ratos. O ato tem sido rechaçado pela comunidade científica e visto como prejudicial à ciência.

Jornal da Ciência - Qual a importância da utilização de animais na pesquisa científica?
Cordeiro - Grandes avanços na saúde pública  foram propiciados à humanidade, graças à utilização de animais na pesquisa científica. Podemos citar como exemplos a descoberta e o controle de qualidade de vacinas contra a pólio, o sarampo, a difteria, o tétano, a hepatite, a febre amarela e a meningite. Testes com animais também foram essenciais para a descoberta de anestésicos, de antibióticos e dos anti-inflamatórios, de fármacos para o controle da hipertensão arterial e diabetes , da dor e da asma, para tratamento da ansiedade , dos antidepressivos, dos quimioterápicos, e dos hormônios anticoncepcionais. Atualmente, vários trabalhos estão sendo desenvolvidos em laboratórios brasileiros visando a descoberta de vacinas e medicamentos para a Malária, a Aids , Dengue , Tuberculose e outras doenças. Poderíamos, portanto, dizer que os animais experimentais são grandes responsáveis pela sobrevivência da raça humana no planeta.

Por que não é possível abrir mão desse tipo de experimentação?
Embora técnicas altamente sofisticadas e equipamentos com alta tecnologia sejam necessários para que algumas pesquisas sejam realizadas, em virtude da complexidade da célula biológica, o uso de animais de laboratório ainda é necessário para sua execução. Vale ressaltar que vários pesquisadores, no Brasil e no exterior, já desenvolvem grandes esforços visando a descoberta de métodos alternativos, para que algum dia os animais não sejam mais necessários ou utilizados em pesquisas experimentais. Atualmente, porém, somente em alguns poucos casos a Biologia Celular e Molecular, através de técnicas de cultura de tecidos, e simulações computacionais oferecem essa possibilidade. Neste sentido, é um grande equívoco, irresponsabilidade e desconhecimento da realidade ir para a mídia afirmar que os animais não são mais necessários para a descoberta de novas vacinas, medicamentos e terapias.

De que forma esses testes são regulados?
No Brasil, um grande marco para a pesquisa cientifica na área da saúde ocorreu com a aprovação da Lei 11.794 de outubro de 2008, conhecida como Lei Arouca, que regulamentou a criação e utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica no país. A nova lei criou o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), e obrigou as Instituições de Pesquisa a constituírem uma Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua).

A Resolução nº 1 do Concea determinou as competências das Ceuas , que são os componentes essenciais para aprovação, controle e vigilância das atividades de criação, ensino e pesquisa científica com animais, bem como para garantir o cumprimento das normas de controle da experimentação animal editadas pelo Concea.

As Ceuas representam uma grande mudança de cultura na ciência e são formadas por médicos veterinários e biólogos, docentes e pesquisadores na área especifica da pesquisa cientifica , e um representante de sociedades protetoras de animais legalmente constituídas e estabelecidas no país.

Ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o Concea tem apresentado um desempenho excelente. Uma de suas principais competências é expedir e fazer cumprir normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa cientifica; credenciar instituições brasileiras para a criação ou utilização de animais em ensino e pesquisa científica; e monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam a utilização de animais em ensino e pesquisa.

E como é a participação das entidades defensoras dos animais nesse processo?
Os representantes das sociedades protetoras de animais legalmente estabelecidas no país são profissionais muito qualificados, com formação pós-graduada em nível de doutorado, e têm dado excelentes contribuições na Câmara dos Deputados e nas discussões e deliberações do Concea. A Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais para fins Cientificos e Didáticos (DBCA), publicada na Resolução Normativa 12 , de 20 de setembro de 2013 , uma bíblia para os laboratórios de pesquisa no Brasil, é um dos recentes exemplos de competência dos membros do colegiado.

Qual a importância da experimentação animal para os próprios animais?
Os animais domésticos como cães e gatos e os de interesse econômico como bovinos, suínos e aves também têm sido beneficiados com os avanços da ciência no campo da terapêutica e cirurgia experimental. Poderíamos destacar as vacinas para a raiva ,a cinomose , a febre aftosa, as pesquisas com o vírus da imunodeficiência felina, a tuberculose e várias doenças infecto-parasitárias.

(Mario Nicoll / Jornal da Ciência)

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