sábado, 5 de outubro de 2013

Dilemas da educação pública entram em cartaz no teatro


JC e-mail 4827, de 04 de Outubro de 2013.
Dilemas da educação pública entram em cartaz no teatro


Com texto de Jô Bilac, Cia. dos Atores destrincha escolas brasileiras em 'Conselho de classe'. Montagem está em cartaz no Rio de Janeiro
 
Está tudo lá: a professora que vende cosméticos para complementar a renda, a falta de água no bebedouro, o calor excessivo e a insatisfação de alunos e professores com uma escola em decadência. A peça "Conselho de classe", apresentada pela da Cia. dos Atores no Espaço Sesc, tem tudo isso e muito mais. Afinal, ao fazer uma reconstituição verossímil das escolas públicas brasileiras, a montagem vai fundo nas feridas de um colégio.

Com texto de Jô Bilac e direção de Bel Garcia e Susana Ribeiro, a peça coloca em cena quatro representantes do conselho de uma escola estadual, que se reúnem para discutir os rumos da instituição. Em pauta, temas aparentemente banais, como o uso da quadra da escola, viram um caloroso embate ideológico. E no meio da discussão, a inesperada chegada de um novo diretor desperta ainda mais os ânimos dos personagens.

Apesar da fidelidade com o mundo real, a diretora Susana conta que o grupo não teve tempo para vistar escolas antes de produzir o espetáculo, construído simultaneamente à produção do texto por Jô Bilac. Quem fez a ponte com esse universo foi a consultora pedagógica Cléa Ferreira, especialista em gerir problemas escolares. Em várias conversas com o autor, ela traçou um verdadeiro raio-X dessas escolas, assegurando um bom embasamento para a construção da trama.

- Pudemos ver que há muitas pessoas lutando pela educação há mais de 20 anos e, por mais que haja alguma desesperança, estes professores estão sempre ali. E tem uma coisa muito própria do universo deles, que é uma relação afetiva muito forte com o ambiente escolar, a qual segura essa realidade absurda em que vivem, indigna de salário e condições. Essas pessoas precisam ser ouvidas - avalia Susana.

A diretora diz que a montagem surgiu do desejo do próprio Jô Bilac de escrever um texto que trouxesse um realismo psicológico ambientado numa instituição falida. Ao mesmo tempo, ele queria abordar as relações humanas dentro da educação. Foi o casamento perfeito:

- A construção da peça durou cerca de dois meses e meio. A gente ia recebendo o texto e construindo os personagens. Parecia que estávamos num folhetim. A observação dele sobre essa realidade e a nossa vontade de trabalhar as relações humanas conferiu, então, muita verossimilhança ao resultado final.

Durante esse processo, muita coisa aconteceu longe dos palcos. O Brasil vivenciou uma série de manifestações e os professores do estado e do município do Rio de Janeiro entraram num longo impasse com os poder público, acompanhado por uma extensa greve. Embora por coincidência, todos estes fatos deixaram o espetáculo ainda mais atual.

- Certamente, é uma das primeiras peças a abordar essas realidades tão recentes. Quem trabalha com educação reconhece muitos pontos apresentados em cena. A gente quer muito que os professores assistam e deem um feedback para nós. Agora, temos vontade de levar o espetáculo até as quadras das escolas e contribuir um pouco com toda essa mobilização pela educação - pontua Susana.

"Conselho de classe" traz no elenco Cesar Augusto, Leonardo Netto, Marcelo Olinto, Paulo Verlings e Thierry Trémouroux, e fica em cartaz até 3 de novembro. O Espaço Sesc fica na Rua Domingos Ferreira 160, Copacabana. As sessões são sexta-feira e sábado, às 21h, e domingo às 20h. O ingresso custa R$ 20.
 
(Eduardo Vanini/O Globo)
http://oglobo.globo.com/educacao/dilemas-da-educacao-publica-entram-em-cartaz-no-teatro-10243541#ixzz2glMjs1hG