2009 - number 7
© DR Retrato de Galileu pintado por Justus Sustermans (1636). |
Pequena esfera no centro de outra esfera maior: assim era imaginada a terra e o universo na Grécia Antiga. Essa imagem de um mundo fechado foi desfeita graças a uma bugiganga que se pode encontrar à venda no mercado. Há 400 anos, Galileu observava o firmamento com uma luneta fabricada por ele próprio. Desde então, o mundo não seria mais o mesmo.
Em 1639 – quase 30 anos após sua descoberta, cujo 400º aniversário é celebrado em 2009 –, Galileu, com 68 anos, ficou cego do olho direito. Um ano mais tarde, já completamente cego e dominado pelo desespero, ele escreveu a Elias Donati, seu amigo mais fiel: “Ilustre senhor, Galileu, seu servidor e caríssimo amigo, por infortúnio, está agora irremediavelmente cego. Vossa Senhoria imagina sequer meu atual estado de abatimento ao pensar que o firmamento, o mundo e o universo – cujas dimensões, graças a minhas observações e demonstrações, foram aumentadas cem e mil vezes em relação ao que era conhecido ou tinha sido observado pelos cientistas dos séculos passados – ficaram reduzidos ao espaço ocupado por uma pessoa”.
Palavras de um homem desesperado a quem a cegueira, ao reduzi-lo unicamente à visão do espírito, concedera a possibilidade de “enxergar” a posição que ocupa, tanto em um instante, entre as coisas deste mundo, como para sempre, na história dos homens.
É como se a cegueira, ao privá-lo da vista, o capacitasse de adotar o ponto de vista da posteridade e de ver em si mesmo o homem por intermédio de quem a humanidade saiu do “mundo fechado” para se abrir ao “universo infinito”, de acordo com as expressões de Alexandre Koyré (1892-1964) [filósofo e historiador das ciências francês de origem russa]. Continua