sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma reflexão sobre o aborto

Via Estadão, há 441 dias sob censura
Por Herton Escobar
INFOGRÁFICO: Marcos Muller/AE (Copyright Agência Estado)
13.10.2010



A polêmica eleitoral sobre a legalização do aborto no Brasil.
O prêmio Nobel para o inventor da fertilização in vitro, dado na semana passada.
O impasse judicial sobre financiamento de pesquisas com células-tronco embrionárias nos EUA.

Todos esses assuntos que surgiram no noticiário recentemente têm uma pergunta em comum por trás deles: Quando começa a vida?
Ou melhor: Quando começa o indivíduo?
A ciência oferece uma série de informações relevantes para esse debate, mas não uma resposta definitiva.
Do ponto de vista puramente biológico, não há dúvida: A vida começa na fertilização, quando o espermatozóide e o óvulo (que, por si só, já são células vivas) se fundem para formar um embrião. Esse embrião primordial de uma única célula, chamado zigoto, então, começa a se dividir em 2, depois 4, depois 8, depois 16 células e assim por diante, até chegar aos trilhões … e essas células começam a se organizar e se diferenciar em diferentes tecidos, até formar um ser humano completo, com olhos, braços, pernas, coração, pulmões, rins e assim por diante. Tudo bem bonitinho, no seu devido lugar. Imagine só!
O período da primeira à oitava semana de gestação é o chamado “estágio embrionário”. O sistema nervoso do embrião começa a se formar na terceira semana, com a formação do tubo neural (que eventualmente se transformará na medula espinhal e no cérebro). Na semana seguinte começam a se formar os primeiros órgãos, no processo chamado de organogênese. Lá pelo dia 22, um aglomerado de células cardíacas começa a pulsar, formando um coração primitivo.
Só a partir da nona semana, ou do terceiro mês, é que o embrião (medindo ainda apenas alguns centímetros) passa a ser chamado de feto. Desse ponto em diante, todos os órgãos vitais já estão presentes de alguma forma, ainda que muito primitiva, e o desenvolvimento passa a ser focado mais em crescimento do que em formação de novas estruturas.
Então não há dúvida: o embrião, desde a sua primeira célula, é uma forma de vida … é um ser humano em formação. Mas em que ponto, exatamente, essa forma de vida pode ser considerada um indivíduo propriamente dito? Uma entidade própria, individual, com direitos individuais? Desde a concepção? A partir da formação do cérebro? Quando o coraçãozinho primitivo começa a pulsar? Continua