Via blog do Noblat
Por Miriam Leitão
05.10.2010
Obrigada, Marina, por ter dado ao Brasil mais uma chance de discutir e pensar; por ter mostrado que um presidente, mesmo popular, não garante a eleição em primeiro turno; por ter tornado a conversa mais inteligente com seus semitons, entre o vermelho e o azul; por ter elevado a agenda ambiental ao ponto de encontro de outros grandes temas nacionais.
Obrigada pela alegria do discurso em que comemorou os resultados eleitorais que não a levaram para o segundo turno. Foi uma aula de política, num país onde a política anda tão deseducada. Por ter lembrado a questão mais fundamental em qualquer democracia: o eleitor é dono do seu voto. E por ter alertado os dois candidatos que continuam na disputa, Dilma Rousseff e José Serra, que eles têm agora um privilégio e uma responsabilidade.
Marina foi o estuário onde desaguaram vários tipos de votos: os descontentes, os fiéis, os esperançosos. Esse grupo, com sua diversidade, vai decidir a eleição. Certamente vai se dividir, não irá todo para um lado só, porque é da natureza desse grupo a inquietação com o automatismo, com o comando único, com as certezas prévias.
José Serra tem um caminho maior a andar se quiser ganhar a eleição, mas deve lembrar que o bom momento econômico atual é mais uma etapa dos ganhos dos últimos 16 anos. Esses avanços nasceram na estabilização monetária, vitória do grupo político ao qual Serra pertence, da qual ele pouco fala.
Dilma Rousseff, se quiser transformar seu favoritismo em vitória, terá que aprender algumas lições com Marina. Primeiro, a humildade; segundo, a ser natural e não um produto do marketing político; terceiro, entender afinal do que Marina está falando quando se refere à conciliação entre economia e ecologia. Esse talvez seja o desafio mais difícil para quem, como Dilma, acredita no modelo de obras dos anos 70.
Marina deu uma lição também aos analistas que tantas vezes disseram que ela era a candidata de uma nota só. E a lição é que o desafio ambiental e climático não é um modismo, um nicho, uma nota. É o pano de fundo de qualquer proposta verdadeiramente desenvolvimentista.
O verde de anos atrás defendia espécies ameaçadas. Elas continuam precisando de proteção, mas o verde hoje tem urgências mais amplas. Mudou de patamar.
Nenhum planejamento estratégico em empresas, organizações, países pode ignorar essa questão. É uma nova lógica à qual todos os outros projetos — da logística à reforma tributária, da educação ao planejamento urbano, da energia ao financiamento público — têm que se adaptar. É isso ou não ter futuro. Simples assim.
Continua