Como se livrar da culpa - Parte 1
Vivemos numa sociedade que cobra perfeição na vida pessoal e profissional, e as pessoas se sentem cada vez mais exigidas. Saiba quais são os dez fardos contemporâneos e como administrá-los
Você tem dado atenção suficiente aos seus filhos? Cuida da saúde? Consegue cumprir todas as metas no trabalho? Leva uma vida sustentável? Faz algum tipo de trabalho voluntário? Tem investido na sua capacitação profissional? São poucas as pessoas que conseguem responder a todas essas questões com um sonoro e convincente sim. Entre as que dizem não, muitas se sentem invadidas por uma sensação de decepção consigo mesmas. E do incômodo inicial nasce um sentimento mais perene, profundo e complexo: a culpa. Culpa por não ficar com os filhos, por não fazer atividade física nem se alimentar direito, ou por deixar para depois aquela pós-gradução ou curso de línguas que iria impulsionar a carreira. A culpa é uma incômoda companheira da contemporaneidade.
“Temos a impressão de que somos permissivos, o que, em tese, reduziria as expectativas e diminuiria a sensação geral de culpa”, diz Oswaldo Giacóia Júnior, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp). “Mas essa permissividade é só fachada.” Sob o manto dessa suposta liberdade crescem expectativas cada vez mais numerosas e subjetivas, como a do corpo perfeito, do sucesso profissional e da família da propaganda de margarina, que funcionam como grandes forças geradoras de ansiedade. “Vivemos numa época em que a culpa é mais mortal do que nunca”, argumenta Giacóia. Para ele, hoje os parâmetros de excelência se multiplicaram e acompanhá-los virou uma tortura. Estamos num tempo da cobrança insistente por um ideal que muitas vezes não sabemos nem qual é. Continua