Eu lia Pinóquio para ela na cama, quando parei e perguntei:
- Filha, você mente?
- Não – ela disse, convicta, balançando a cabecinha negativamente, com os olhos fixos no livro.
Aí, pensou um pouco e acrescentou me olhando de lado:
- Eu já falei coisas que não existem, mas eu tava brincando, não tava mentindo.
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Ela brincava sozinha. Aí pegou um fantoche, assumiu uma voz engraçada e se pôs a contar uma história enorme. Captei o início.
“Era uma vez num país muito distante um príncipe. Ele era rico. Ele queria exatamente tomar chá. Mas não tinha chá! Então ele pegou a cadeira, subiu na mesa. Chegou o malvado e empurrou a pessoa, que ficou tonta e, plect, caiu no chão. Aí ele pensou, onde vou arrumar chá…”
Sensacional mesmo não é nem o enredo sem pé nem cabeça, algo muito comum aos 4 anos, nem o fato de ela incluir chá, uma bebida que definitivamente não faz parte da sua realidade. Mas o que eu acho ótimo é a preocupação em encaixar um advérbio e a onomatopeia. Continua
