sexta-feira, 21 de maio de 2010

Isaias Raw defende crítica a coleção do Butantã; pesquisadores reagem

Via Estadão. há 294 dias sob censura
Por Fabiane Leite e Alexandre Gonçalves
20.05.2010

Ex-diretor do Butantã reforça sua posição, mas outros cientistas defendem trabalho

Pesquisadores, comunidades científicas e o próprio diretor do Instituto Butantã, Otávio Mercadante, reagiram às declarações do ex-presidente da Fundação Butantã, Isaías Raw.

O pesquisador afirmou, em entrevista ao Estado, que cabe aos pesquisadores do instituto buscar apoio em agências de fomento à ciência. “Se não conseguir, é porque não tem competência”, disse Raw. Também relativizou o papel das coleções. “Se a população não é atendida com vacina e soro, não é para juntar cobra para brincar no laboratório.”

Em nova manifestação, por carta, voltou a defender a missão de saúde pública do instituto e a criticar os responsáveis pela coleção de cobras e aracnídeos.

A Sociedade Brasileira de Zoologia divulgou carta em que “repudia integralmente a manifestação pública” de Raw “sobre a inutilidade das coleções”.

Leia, abaixo, a íntegra das cartas de Raw e de seus críticos:

De: Prof. Isaias Raw
Para: Folha de S.Paulo e Estado de São Paulo
Data 19-5-2010

Assunto: O incêndio no Butantan

Lamento que tenho que restringir minhas declarações a um texto escrito. Repete-se 1969 quando perseguido pela Ditadura e seus aliados, o prestigioso New York Times pediu uma entrevista. Informei que minha família ainda estava no Brasil e só daria declarações se o texto me fosse submetido. O texto submetido não foi o que apareceu no Jornal! Defendo a liberdade da imprensa, que deve ser responsável.

Disse ao inexperiente repórter, que como foi determinado que as declarações seriam do Diretor do Butantan e que aguardasse um texto escrito. Não foi o que ocorreu! Tenho portanto direito à resposta!

1. Como Diretor do Instituto, eu já havia advertido os responsáveis pelo acervo de Coleções de Animais Peçonhentos, que o álcool usado para conservar estes animais, evaporava criando um ambiente com vapores, que certamente um dia levaria a um incêndio de altas proporções. Bastaria substituir o álcool por glicerina (outro álcool, mais seguro). Os pesquisadores e a Engenharia do Instituto recusaram-se a tomar conhecimento da advertência e ao receber os recursos da FAPESP para aumentar o patrimônio, nada fizeram para prevenir a anunciada catástrofe.

2. A coleção de cobras, algumas ainda colhidas por Vital Brazil, tinham um valor sentimental e histórico. Todos lamentamos, mas o real patrimônio deixado por Vital Brazil não foi a coleção de cobras, mas descobrir como produzir soros! Vital Brazil iniciou produzindo soro contra peste bubônica, que permitiu reabrir os portos do Brasil, onde nenhum navio chegava! Como médico, criou um Instituto que tinha como prioridade a saúde pública.

3. Quando cheguei ao Butantan, em 1984, o Instituto só produziu 39.000 ampolas de soro, que testadas pelo INCQS, foram recusadas pois eram inativas e contaminadas! O respeito à herança de Vital Brazil, era construir uma planta moderna e produzir como estamos fazendo 700.000 ampolas todos os anos.
Continua