sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fogo no Butantã expõe abandono do setor de pesquisa; vacinas são prioridade


JC e-mail 4014, de 20 de Maio de 2010.
Fogo no Butantã expõe abandono do setor de pesquisa; vacinas são prioridade


Instituto não investe há 8 anos em reforma ou melhoria da infraestrutura dos prédios que abrigam pesquisa básica, à qual pertencia o acervo de cobras e aranhas destruído; biblioteca está tomada por goteiras e cupins ameaçam coleção de obras raras

A ênfase na construção de fábricas e produção de vacinas rendeu benefícios à saúde pública e prestígio internacional ao Instituto Butantã nos últimos anos. Mas trouxe como efeito colateral a degradação da estrutura de pesquisa básica, à qual pertencia o acervo de cobras e aranhas, destruído no sábado (15/5) por um incêndio.

Segundo fontes ouvidas pelo Estado, as chamas que consumiram a coleção centenária, iniciada por Vital Brazil, não nasceram de uma falha pontual no sistema contra incêndios, mas de uma deficiência estrutural sistêmica que ameaça grande parte do patrimônio histórico e científico do instituto.

O prédio da biblioteca, que ostenta o nome do Instituto Butantã no ponto mais alto do complexo, é exemplo disso. Há goteiras, infiltrações e cupins por todos os lados. Uma sala está sem teto e teve de ser interditada no início do ano por causa de um deslocamento de vigas. Sem instalações adequadas para trabalhar, funcionários recorrem a gambiarras elétricas. Há até um morcego que vive no porão, apelidado de Juquinha. No mesmo prédio funciona, indevidamente, o setor de farmacologia.

"E olha que esse prédio é o cartão postal do Butantã", diz a bibliotecária Lindalva Santana, que cuida do acervo de 8 mil livros e 200 mil revistas científicas. A coleção de obras raras, incluindo publicações dos séculos 18 e 19, encapadas com pele de cobra, está espremida em um armário de ferro comum, cheirando a naftalina. "Faz dez anos que cheguei aqui e faz dez anos que peço para comprarem um armário novo", conta Lindalva. Continua

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