quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sem sistema de combate a incêndio, museus de zoologia correm riscos



JC e-mail 4012, de 18 de Maio de 2010.
Sem sistema de combate a incêndio, museus de zoologia correm riscos


Com acervo de 10 milhões de exemplares, Museu de Zoologia da USP só tem extintor - e é definido pelo próprio diretor como uma 'bomba-relógio'. Museu Nacional do Rio de Janeiro possui hidrantes sem água e não conta com brigada de incêndio

O incêndio que destruiu o acervo de cobras e aracnídeos do Instituto Butantã fez soar o alarme sobre a falta de apoio à conservação do patrimônio histórico natural do País. Nenhum dos grandes museus de zoologia brasileiros conta com um sistema adequado de combate a incêndios. "Aqui só tem extintor", diz o diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), Hussam Zaher.

Nem o fato de o museu ser vizinho a uma base do Corpo de Bombeiros deixa Zaher tranquilo. Alocado em um prédio histórico do Ipiranga, o MZ-USP tem um acervo de 10 milhões de exemplares de bichos da biodiversidade brasileira e mundial, de formigas e minhocas a onças e gaviões. Grande parte deles, preservada em potes com álcool como se faz em qualquer coleção desse tipo no mundo. A coleção de cobras do Butantã, comparativamente, tinha cerca de 85 mil exemplares.

"Temos, pelo menos, dez vezes a quantidade de álcool no prédio que o Butantã tinha. Mais as coleções secas, que também queimam com extrema facilidade", afirma Zaher. O porão é abarrotado de estantes com vidros e tambores com álcool, contendo mais de 1 milhão de exemplares de peixes. Outras coleções estão espalhadas pelo primeiro e segundo andares. "É uma bomba-relógio", diz o diretor. "Se esse prédio pegar fogo, será um desastre de proporções bíblicas. Não vai ter quem segure."

O biólogo Miguel Trefaut Rodrigues, professor da USP e ex-diretor do museu, conta um incidente que demonstra como é fácil começar um incêndio num ambiente como esse.

Em 1998, uma aluna usava uma lanterna para procurar um espécime na coleção de peixes, quando derrubou a lanterna e um pote com álcool ao mesmo tempo. A lâmpada estourou, soltou uma faísca e o álcool pegou fogo. "A chama foi controlada rapidamente e não houve danos. Mas poderia facilmente ter sido um desastre", lembra Rodrigues. Nem detectores de fumaça o museu tem. Continua