O professor de uma escola particular de Porto Alegre enfrentou crises de abatimento, alterações de humor e desânimo devido à insolência cotidiana da classe. O ponto final à rotina doentia foi dado quando uma aluna o xingou de pedófilo em pleno pátio escolar. Fez o que tem sido a única saída para muitos colegas em situação semelhante: abandonou o estabelecimento para preservar a saúde mental.
O educador, de 33 anos, enfrentava como podia o desrespeito estudantil. A situação piorou quando turmas menores do Ensino Médio, de até 30 alunos, se fundiram para dar lugar a classes de quase 40 adolescentes. A indisciplina começava pelo desrespeito ao professor, que falava sem ser escutado, e pedia sem ser obedecido. Aos poucos, começaram a estourar brigas entre os estudantes.
O clima continuava se agravando no começo deste ano. O comportamento do professor já preocupava a mulher, também professora, ao revelar episódios cada vez mais seguidos de tristeza profunda.
– Ele também tinha períodos em que ficava muito irritado, aborrecido – conta.
Uma adolescente, após receber uma prova na qual havia tirado nota zero, se revoltou. Ao sair da sala, falou alto:
– O puto desse professor me deu zero!
O educador tentou ir atrás da aluna, mas não conseguiu alcançá-la. Comunicou o caso à coordenação do estabelecimento e se dirigiu ao pátio para pegar o carro e dar aula em outro colégio. A mesma estudante foi ao seu encontro e, aos gritos, o chamou de pedófilo.
– Eu tenho uma filhinha pequena em casa. Imagina alguém falar uma coisa dessas – desabafa o docente.
O caso foi novamente levado à direção. A maior decepção do professor foi saber que a adolescente levou só um dia de suspensão.
– Tive de ir embora antes de precisar de tratamento – afirma. Continua
A pedagogia da concessão, anos depois, começa a revelar sua face mais dramática: uma juventude perdida diante de adultos com medo de punir.
Evandro Pelarin – Juiz da Infância e Juventude de Fernandópolis-SP