terça-feira, 20 de outubro de 2009

Os limites da inocência

Via O POVO - Por Angélica Feitosa - angelica@opovo.com.br - 19.10.2009



Foi-se o tempo em que as crianças, na televisão, só faziam gracinhas e esbanjavam uma maturidade e sabedoria impressionantes para a idade. A exemplo do cinema, as novelas começam a tentar trazer crianças no papel de malvadas. Aos oito anos, Klara Castanho foi anunciada, a princípio, como uma vilã mirim, que induziria a mãe Dora, papel de Giovanna Antonelli, a fazer maldades. A pequena atriz chegou a dizer em entrevista ao jornal O Dia que não sabia se o público ia gostar dela. "Já me ensinaram a encarar as pessoas e a fingir que vou chorar para fazer chantagem emocional", contou na conversa.

Na trama desde o dia 5 deste mês, a personagem Rafaela até agora não demonstrou nenhuma maldade: só ser uma menina sapeca e um pouco malcriada. Apesar disso, o Ministério Público do Rio de Janeiro encaminhou notificação ao escritor Manoel Carlos, pedindo cuidado na elaboração dos seus personagens menores de 18 anos. O fato é que, se Rafaela se revelar realmente como uma vilã, a personagem poderia até sair do ar. Em entrevistas, o autor Manoel Carlos afirmou considerar um exagero, já que a personagem acabou de entrar na trama.

A partir dessa polêmica, várias questões se colocam. Aos oito anos, uma criança já saberia lidar com as emoções de um personagem "do mal"? Viver uma vilã pode influenciar no desenvolvimento da pequena atriz e até no desenvolvimento de outras crianças? E como ela receberia uma possível hostilidade do público?

"Uma criança no papel de vilã pode antecipar vivências de sentimentos que não são delas. Isso pode causar várias implicações no universo infantil. É muito difícil separar esses sentimentos da ficção e da realidade", aponta Ângela Pinheiro, psicóloga do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a Criança (Nucepec), da Universidade Federal do Ceara (UFC). Continua