Por Carla Rodrigues
A filósofa e feminista francesa Elisabeth Badinter é uma pensadora instigante em tudo que diz respeito à maternidade. Autora, entre outros, de Um amor conquistado: o mito do amor materno, ela lançou no início do ano na França o livro “Le Conflit, la Femme et la Mère” (O conflito, a mulher e a mãe, tema dessa reportagem do Valor).
Nenhuma mulher francesa ficou indiferente ao debate proposto pela filósofa: de um lado, muitas delas concordam com o princípio de que a sociedade impõe um modelo de maternidade que as faz esquecerem-se de si próprias, do seu corpo, do seu trabalho, da sua sexualidade, e reconhecem a pressão subjacente ao fato de que a identidade feminina se afirma através da maternidade. Outras refutam a ideia de que amamentar e ser uma mãe presente e disponível para os filhos representa um castigo ou uma tirania, como defende a autora e relata essa reportagem do jornal português O Público.
Basicamente, a pergunta que orienta o corajoso pensamento de Badinter sobre a maternidade é: “Será o amor materno um instinto, uma tendência feminina inata, ou depende, em grande parte, de um comportamento social, variável de acordo com a época e os costumes?” Para ela, não só a resposta é sim, como hoje os movimentos ambientalistas estão lutando por uma configuração da maternidade pautada pelo que ela chama de “ofensiva naturalista”, resultado da pressão dos ambientalistas para a regressão do papel da mulher na sociedade, com a defensa da amamentação, do uso da fralda de pano em vez das descartáveis, e da defesa da alimentação infantil com pratos preparados em casa, de preferência com produtos orgânicos. Todas essas exigências limitariam as mulheres ao único papel de mãe e as levariam a ficar em casa e abdicar de uma vida profissional.
Depois de vender 180 mil exemplares na França em apenas seis meses, o novo título polêmico de Badinter deve chegar ao Brasil no segundo semestre pela Editora Record.
Dela, eu já resenhei Rumo equivocado, uma importante avaliação sobre os erros cometidos pelas feministas francesas. Na crítica que faz aos desvios do feminismo, Badinter bate na vitimização das mulheres e afirma que “o homem não é um inimigo a ser abatido.”
Resenhei também “Émilie, Émilie – a ambição feminina no século 18”, uma obra-prima sobre as dificuldades históricas que as mulheres sempre enfrentaram para ser ambiciosas, mostrando que de nada adianta brigar contra os homens, se ainda há poderosos adversários internos a ser vencidos, como mostro a seguir. Continua
fonte foto de Elisabeth Badinter