Edição Impressa 174 - Agosto 2010
Memória
Observações astronômicas de Valentin Stansel foram citadas no Principia, de Newton
Olhar para o céu e fazer anotações tão precisas quanto possíveis sobre fenômenos celestes nunca foi um problema para o jesuíta tcheco Valentin Stansel (1621-1705). Não importava se estivesse em cidades europeias ou em Salvador, no século XVII. Matemático de reconhecido talento, teve grande parte de sua obra concebida e escrita na capital colonial do Império português e publicada em Praga e Roma. Em 1687 foi citado por Isaac Newton no Princípios matemáticos da filosofia natural, conhecido pelo primeiro nome em latim, Principia. O físico inglês leu no Philosophical Transactions, publicação da Royal Society, artigo de Stansel sobre um cometa observado em 1668, e usou as informações no livro. Nada mau para um padre que gostaria mesmo era de ter ido ensinar matemática na China em vez de vir para o Brasil.
O Oriente estava na moda entre os jesuítas até meados de 1650. O estudo da matemática era valorizado na Companhia de Jesus desde o final do século XVI e foi um dos fatores que tornaram possível a missão na China ao ajudar, por exemplo, na reorganização do calendário chinês. A boa receptividade motivou jovens religiosos a se colocarem à disposição para missões naquela parte do mundo. Nascido em Olmutz, cidade da Morávia localizada na atual República Tcheca, Valentin Stansel estudou filosofia e matemática na Universidade de Praga. Tornou-se professor, realizou experiências e estudos de filosofia natural e escreveu pelo menos um livro até 1654. No ano seguinte partiu para Roma, escala obrigatória para quem vinha da Europa do leste e desejava seguir em missão.
Na capital italiana trabalhou com Athanasius Kircher – matemático que era o grande orientador da Companhia de Jesus do período – e construiu uma rede de relações com outros filósofos naturalistas jesuítas. Em 1657 seguiu para Lisboa, onde lecionou enquanto esperava uma chance de ir para a China. Vários contratempos depois, Stansel finalmente viajou, mas para o Brasil. O comando da ordem enviou um visitador (espécie de interventor), Jacinto de Magistris, para o Brasil com o objetivo de evitar que os jesuítas locais se envolvessem em rusgas políticas. Magistris levou Stansel consigo, em 1663. Continua
Sobre a imagem:
Frontispício do elogiado Uranophilus
© Reprodução cedida gentilmente por Carlos Ziller Camenietzki
Veja também:
ESBOÇO BIOGRÁFICO DE VALENTIN STANSEL
(1621-1705), MATEMÁTICO JESUÍTA E
MISSIONÁRIO NA BAHIA1