terça-feira, 10 de agosto de 2010

Somos todos Willy Loman

Via Estadão, há 375 dias sob censura
Por Lucia Guimarães, lucia.guimaraes@estadao.com.br
09.10.2010
PARATY

Uma das falas mais conhecidas da dramaturgia americana é o lamento de Linda, mulher do caixeiro viajante da peça de Arthur Miller. Ao notar o desespero do marido Willy Loman, que não consegue sobreviver na economia modernizada do pós-guerra, ela pede aos filhos que prestem atenção a "uma coisa terrível que está acontecendo com ele".

"Attention must be paid", a frase dita em A Morte do Caixeiro Viajante, tornou-se uma expressão comum de alarme e compaixão e me veio à cabeça, enquanto ouvia o editor de um site de notícias, gabar-se do tratamento dado aos jornalistas na sua redação. O site Gawker dá prêmios em dinheiro para matérias que atraiam mais tráfego. Um telão pendurado na redação vai atualizando as mais lidas com o nome dos autores. O fundador do Gawker, Nick Denton, um sujeito que faria o finado Arthur Miller vomitar, disse ao New York Times que vê seus repórteres postados diante do telão, como hominídeos embevecidos diante de um monólito.

O comentário foi inserido numa reportagem recente do New York Times sobre a notável ocorrência de desgaste físico e emocional no jornalismo online.

A expressão slow-blogging, uma referência ao movimento culinário slow-cooking, não é nova, assim como não é novidade que toda brusca mudança tecnológica e econômica desperta reações e manifestos para se tirar o pé do acelerador. Mas, depois de uma década de blogues e uma primeira geração de jornalistas formados online, as consequências vão além de tendinites, dores na coluna e obesidade, males comuns de quem passa a maior parte do dia ao computador.

A reportagem do Times relatou um alto índice de pedidos de demissão em redações como a do Politico, o site cujo repórter mais famoso acorda às 2 da manhã para começar a blogar. Continua

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