sábado, 28 de agosto de 2010

Linguagem de internet preocupa educadores

Via Estadão, há 393 dias sob censura
Por Luciana Alvarez
23.08.2010


Escolas buscam estratégias
para atrair a atenção dos alunos para escrita e literatura



Foco. Alunos usam a biblioteca no Colégio Batista Brasileiro,
que possui programas para estimular o interesse pela leitura


Em uma certa comunidade virtual de adolescentes, abundam erros de ortografia - como "resolvel", "intão" e "considerá" - e gramática - "ia matar ela". Mesmo curtos, os textos claramente não são revisados; por toda a parte há letras dobradas e falta espaçamento entre as palavras.

Não se pode negar que o objetivo da troca de mensagens às vezes seja instrutivo: no caso citado, a intenção era inventar uma história coletiva, com cada dezena de palavras escrita por um novo autor. Mas entre os seguidos tropeços no português, até o enredo acabou comprometido. Em certas horas, personagens que não estavam na cena aparecem sem explicação, participando dos diálogos.

Para muitos, a internet desponta como vilã dessa narrativa de horror. Especialistas, porém, defendem a rede - ela seria, no máximo, "cúmplice do crime" - e dizem que o problema é bem mais profundo.

"A internet tem mais pontos positivos que negativos; é uma nova forma, muito rápida, de acesso a conhecimento", diz Maria Teresa de Freitas, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autora do livro Leitura e Escrita de Adolescentes na Internet e na Escola. "O negativo é o uso exagerado, em detrimento de outras atividades, e quando se aceita tudo como válido, sem visão crítica."

O mundo virtual não está, portanto, na raiz dos problemas dos jovens com a língua portuguesa. "Pesquisas comprovam que o jovem conectado passa mais tempo lendo e escrevendo. Claro que, em sites de relacionamento, a linguagem é abreviada, mais rápida", afirma Teresa. "Mas essa leitura rápida leva a outras leituras. Ele vai lendo mais e tendo mais acesso ao próprio livro." O que faltaria, segundo a professora, seria uma boa orientação de como usar a internet por parte das escolas.

Nas escolas, professores e coordenadores têm de lutar para atrair o interesse dos alunos desde pequenos para atividades além da internet. Em especial, atividades que, diferentemente da realidade das múltiplas janelas, desenvolvam a concentração e a reflexão.

"Os jovens desenvolveram uma linguagem que é deles, muito ágil, que serve de identidade de grupo. A gente respeita isso, mas trabalha a necessidade de usar uma linguagem mais formal. Afinal, ele tem de se comunicar com todos, não só com seus pares", explica Maria Martinez, diretora pedagógica do Colégio Batista Brasileiro, escola paulistana com melhor nota na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Continua

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