sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Desafios da filogeografia

Via Agência Fapesp
Por Fábio de Castro
9/11/2010


Em simpósio internacional do Biota-FAPESP,
cientista aponta os principais desafios na área de
 filogeografia, que combina biologia e geociência.
Levantamento indica poucos trabalhos
 justamente sobre as regiões de maior biodiversidade
Agência FAPESP – “As publicações na área de filogeografia vêm crescendo de forma exponencial, graças à gradual integração entre biólogos e geocientistas, às novas tecnologias de DNA e aos novos métodos estatísticos disponíveis”, disse Luciano Beheregaray, professor das universidades Flinders e Macquarie, da Austrália.

A filogeografia combina biologia e geociência, estudando os processos históricos que podem ser responsáveis pela distribuição geográfica contemporânea de uma espécie.

Segundo Beheregaray, enquanto a maioria esmagadora da produção científica na área vem do hemisfério Norte, a contribuição dos países que concentram a maior parte da biodiversidade do planeta ainda é muito pequena. “Essa distorção dificulta a síntese comparativa da informação produzida globalmente, que é um dos desafios centrais da filogeografia”, disse nesta segunda-feira (8/11), durante o Simpósio Internacional sobre Filogeografia, organizado pelo Programa Biota-FAPESP.

Para reverter esse cenário, segundo o cientista brasileiro radicado na Austrália, é preciso que os países desenvolvidos invistam na pesquisa filogeográfica em países megadiversos, como o próprio Brasil.

“A filogeografia vem crescendo muito, mas os estudos ainda estão muito concentrados nos ambientes terrestres e nos países desenvolvidos. Seria importante investir em trabalhos em áreas de grande biodiversidade, onde há grandes lacunas de informação. Isso permitiria avanços científicos globais”, disse Beheregaray à Agência FAPESP.

Segundo ele, no contexto brasileiro o Estado de São Paulo tem se destacado nos estudos na área. “Mas há uma escassez de trabalhos no resto do país. Seria preciso fazer em todo o Brasil o que a FAPESP faz em São Paulo. Acredito que, para que isso seja feito em um nível satisfatório, será preciso ter recursos do exterior”, disse.

No contexto mundial, segundo Beheregaray, para que a pesquisa avance ainda mais, é preciso que os filogeógrafos deixem de lidar apenas com dados filogenéticos isolados. Ele explica que, como as mutações se acumulam ao longo do tempo, a filogenética é o motor da filogeografia. Mas isso não basta, é fundamental que essas informações sejam combinadas com dados sobre genótipos, por exemplo.

“O filogeógrafo é acima de tudo um naturalista. Um explorador em contato com o trabalho de campo, que precisa ser também um biólogo populacional e um geneticista. É um integrador que lida com uma ampla gama de questões da história natural – da escala dos genes até a escala geológica. Essa característica interdisciplinar torna fundamental a integração de comunidades científicas de vários países e áreas do conhecimento”, afirmou. Continua