Professores da USP criam graduação paga
Fundação dirigida por docentes ligados a curso público de administração vai cobrar R$ 2.200 mensais em nova turma
Criada por professores da USP (Universidade de São Paulo) para dar apoio à instituição, a FIA (Fundação Instituto de Administração) oferecerá a partir de 2011 um curso particular de graduação em administração, com mensalidade de R$ 2.200.
A novidade é criticada. Há o temor de que haja prejuízo ao curso público da USP, pois a maioria dos dirigentes e parte dos professores da FIA são da FEA (Faculdade de Economia e Administração), da universidade.
"Já há pouco comprometimento de alguns docentes com a nossa graduação. Há muitas faltas. Pode piorar, porque alguns deles também estão hoje na FIA", afirma Maíra Madrid, diretora do centro acadêmico da FEA.
O presidente do sindicato dos docentes da universidade, João Zanetic, sustenta que há um conflito de interesses na criação da faculdade privada.
"Por que os dirigentes da FIA que criaram curso que poderá ser até melhor do que o da FEA não fizeram o mesmo pela USP? A FIA fez nome em cima da USP. Agora ela cria um curso concorrente. Há um problema ético", afirma Zanetic.
O diretor acadêmico da FIA, James Wright -que também é docente da USP- discorda das críticas. Para ele, a relação entre as instituições é benéfica à USP.
Segundo Wright, a maioria dos docentes mais bem avaliados da FEA nos processos internos da USP atua também na FIA. "Professores adquirem experiência em empresas e depois repassam aos alunos." Ele diz que o próprio curso da FIA ajudará o da FEA. "O processo de gestão poderá ser usado na USP."
A fundação foi criada em 1980 para agilizar pesquisas e prestação de serviços feitas por docentes da FEA. Possuía até USP em seu nome. Depois, ganhou espaço com cursos de pós-graduação e extensão, todos pagos.
Parte dos recursos eram -e ainda são- revertidos para a faculdade da USP. Para o sindicato dos docentes, a fundação usava a marca e a estrutura da USP para atrair recursos. Depois dessa polêmica, em meados da década, a FIA decidiu retirar a USP do seu nome.
Diretor nega haver prejuízo a curso da USP
O diretor acadêmico da FIA, James Wright, negou que haverá prejuízo ao curso da USP. Ele diz que a fundação contratará docentes específicos para o curso de graduação. Os coordenadores da FIA, porém, são docentes da FEA.
"Queremos criar um curso de referência internacional", disse. A graduação terá 50 vagas.
A fundação também decidiu abrir uma graduação porque o Ministério da Educação limitou a atuação de entidades não educacionais na pós-graduação. Com o curso de graduação, a FIA virou faculdade, se enquadrando nas regras federais para a pós.
O centro acadêmico definirá seu posicionamento sobre o assunto em 2011. A reitoria não se manifestou.
(Fabio Takasashi)
(Folha de SP, 23/11)