Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
26.11.2010
Perfeito. E depois?
O problema, como em tantos momentos de nossas vidas, é o depois. Na vida particular assim como na vida cidadã, a pergunta que se impõe é: e depois?
Sabem por que me preocupa o depois? Porque as autoridades e os cientistas políticos – ah! os cientistas políticos! – misturam informações e declarações do maior bom senso com frases feitas que impressionam.
Por exemplo, quem garante que esta é a primeira vez que a população está a favor da autoridade? Quem criou essa versão?
Morei 16 anos em São Conrado, bem perto da Rocinha, e moro há 12 aqui nas fraldas do Borel. E sempre vi, nas pessoas que moram nessas comunidades, uma tremenda angústia por estarem sujeitas a um comando indevido.
Além de um total descrédito nas autoridades que formam esse mesmo Estado que agora resolveu agir de forma diferente e bem planejada.
Hoje todos só vão falar nisso e não serei eu a trazer alguma informação nova, ou alguma opinião que valha ser registrada.
Mas não quero deixar de agradecer à tenacidade, persistência e coragem do secretário Beltrame; a José Padilha que deu aos meninos de hoje um herói por quem torcer (embora concordando com Merval Pereira: será um bom sinal?) e a quem respeitar; e à Marinha do Brasil que, generosa e amiga do Rio, não se furtou a ajudar nossas polícias.
Discordo de quem diz que pela primeira vez os habitantes das favelas torceram pelo lado do Bem. Tenho certeza que se dão essa impressão, é pela desilusão que está instalada em suas almas.
Meu maior medo é justamente esse: que os moradores da Vila Cruzeiro voltem a se desiludir, quando o que eles querem é aquilo que todos nós queremos: esgoto sanitário; casas seguras; água encanada; luz elétrica; acesso livre para os entregadores de botijão de gás, carteiros, ambulâncias; creches e escolas para as crianças; postos de saúde; quadras de esporte; distritos policiais acolhedores.
Eles não gostam de viver à margem da Lei, “gateando” tudo para poder sair pelo menos um bocadinho do século XVIII onde ainda sobrevivem.
Querem recuperar sua dignidade perdida. Querem ser respeitados como cidadãos e lembrados todos os dias de todos os anos e não somente nos meses que antecedem eleições.
Deus permita que desta vez o Estado, ao retomar esse território de há muito abandonado, cuide dele, zele por ele, seja correto com ele.
Que o Estado seja decente. É essa a palavra. Decente.
Globo News
Estúdio i
José Padilha, diretor do filme Tropa de Elite, fala sobre onda de violência no Rio de Janeiro e comenta operação da polícia.
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