terça-feira, 16 de novembro de 2010

O problema de saber quantos já somos, artigo de Washington Novaes

JC e-mail 4136, de 12 de Novembro de 2010.
O problema de saber quantos já somos, artigo de Washington Novaes


"O censo é muito útil, revela muitas coisas. Mas é preciso que seja interpretado corretamente por quem legisla e/ou administra. E gere consequências justas"

Washington Novaes é jornalista. Artigo publicado em "O Estado de SP":

Um dos temas mais discutidos na reunião da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) em Nagoya foi o do aumento da população mundial e consequente pressão por mais recursos e serviços naturais, quando vários relatórios já acusam a insustentabilidade do panorama - alguns chegam a situar em 50% o excesso de consumo, comparado com a capacidade de reposição do planeta, e em 30% a perda da biodiversidade global registrada em 40 anos.

Soluções propostas não escaparam dos caminhos que até aqui têm ficado no terreno das boas intenções - reduzir o consumo global, baixar o consumo nos países industrializados (os maiores consumidores), baixar as taxas de crescimento da população.

Os números sobre população ali discutidos são, de fato, inquietantes: dos quase 7 bilhões de pessoas que já somos no mundo, chegaremos a 7,67 bilhões em 2020, a 8,3 bilhões uma década mais tarde, a 8,8 bilhões em 2040 e a 9,15 bilhões na metade do século - e tudo isso com as taxas de fertilidade (número de filhos por mulher em idade fértil) em declínio no mundo todo, já abaixo da taxa de reposição, de dois filhos (que substituem pai e mãe, sem aumentar a população).

Embora essa taxa de fertilidade continue em declínio, o "estoque" de mulheres em idade fértil ainda é alto, por causa da alta natalidade nas últimas décadas do século 20 e início deste.

Mas quando se entra no terreno das propostas a discussão é complicada. Há quase 20 anos o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) vem mostrando que os países industrializados, com menos de 20% da população mundial, consomem quase 80% dos recursos, com sua produção e as importações. Se todos os países consumissem como eles, diz o Pnud, seriam desnecessários mais dois ou três planetas. Continua