segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A voz dos invisíveis

Via blog do Noblat
Por Geraldinho Vieira
21.11.2010


Estas pessoas quase nunca são vistas – nossa ruas, edifícios, escolas, locais de trabalho e diversão não foram feitos para elas. Elas quase nunca são ouvidas – quando muito, falam por elas.

Por isso há boas expectativas quanto aos resultados da “mais abrangente pesquisa já feita junto a pessoas com deficiência no Brasil” – segundo noticia o Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD).

O trabalho foi conduzido pelo DataSenado, com a parceria do IBDD, e ouviu mil pessoas em todo o país, colhendo opinião sobre legislação, acessibilidade, transporte, mercado de trabalho, qualificação, benefício, educação, saúde e lazer.

“A grande novidade desta pesquisa foi entrevistar diretamente a pessoa com deficiência e não as entidades representativas ou familiares responsáveis, como é feito comumente quando se quer saber a opinião deste segmento”, revela Ana Maria Noveli - diretora da Secretaria de Pesquisa e Opinião do Senado Federal e coordenadora da pesquisa.

Não se trata de iniciativa simples. Feita por telefone e sem intérpretes/intermediários, os deficientes intelectuais, por exemplo, não puderam ser ouvidos desta vez. Já para aqueles com problemas de audição o uso de vídeo enviado por e-mail com linguagem de sinais permitiu a realização dos questionários.

Talvez você não saiba, mas a maior parte dos surdos tem grande dificuldade com as construções da lingua portuguesa – porque não tiveram acesso à escola, muitos são analfabetos em nosso idioma.

Este aliás é um dos temas da pesquisa: as pessoas com deficiência estão frequentando a escola? Preferem a escola inclusiva ou a especial? Será interessante observar os resultados, a vontade delas próprias, porque há muita pressão em torno desta questão.

Durante a campanha eleitoral, por exemplo, Serra reclamou do corte de verbas para as APAEs. Elas defendem a escola especial, ao contrário do que pensa o MEC que quer escolas inclusivas e por isso direciona recursos para esta abordagem. É discussão complexa.

Para Teresa Costa d’Amaral, superintendente do IBDD – instituto que cedeu um cadastro com 15 mil nomes de pessoas com deficiência em todo o país e ajudou na preparação dos questionários - , “a pesquisa pode ser instrumento que inspire uma mudança de olhar sobre o tema, inclusive no próprio Congresso Nacional onde há muita incompreensão sobre os vários aspectos que envolvem a plena inclusão das pessoas”.

Vale dizer que na nova composição da Câmara Federal há 3 deputados que utilizam cadeiras de rodas. Hoje eles não tem como chegar à Mesa Diretora ou ao púlpito. No Senado há um pouco mais de estrutura específica. S´um pouco mais.

Os resultados serão divulgados no painel “Pesquisa de Opinião sobre a Eficácia da Legislação para Pessoas com Deficiência”, dentro do 6º Fórum Senado Debate Brasil que acontecerá em Brasília nos dias 8 e 9 de dezembro.

Embora já tenha encerrado a fase de coleta da pesquisa, o Senado abriu em seu site o espaço complementar “Cidadania para pessoas com deficiência”, onde pede sugestões para ajudar a instituição a fazer leis melhores.



Geraldinho Vieira é jornalista. Claudius é chargista