domingo, 7 de novembro de 2010

O lobo na pele de cordeiro

Via O ECO
Por Marc Dourojeanni
04.11.2010

O que deve fazer o pastor quando confirma que entre seus cordeiros tem um lobo disfarçado de cordeiro que se aproveita da sua situação no rebanho para atacá-lo? Que fazer com os profissionais que se qualificam como ambientais para melhor destruir o ambiente? Até umas três décadas atrás nem existia o complemento “ambiental” ou “ambientalista” nas profissões tradicionais e, até faz pouco tempo, praticamente todos os que complementavam seus títulos acadêmicos com o agregado ambiental eram, mesmo, ambientalistas ou, pelo menos, pretendiam sê-lo. Mas o mundo mudou e agora, os cartões de visita que anunciam um engenheiro ambiental ou um advogado ambiental, entre outras profissões que acoplaram o termo ambiental, não pertencem necessariamente aos defensores do meio ambiente. Muito pelo contrário, como resultado de uma legislação ambiental mais severa e de um maior rigor na sua aplicação que, em geral, eleva os custos dos empreendimentos, parte significante dos profissionais ambientais da atualidade aplica lucrativamente seus conhecimentos prejudicando o ambiente ou apoiando ou defendendo aos que danam o meio ambiente.

Não se trata, no caso, de visões ou estratégias diferentes para conservar a natureza ou melhorar o entorno. Nem se trata de erros, que qualquer um pode cometer. Trata-se, isso sim, de aplicar fria e calculadamente os conhecimentos adquiridos com a profissão ou a especialização ambiental para favorecer interesses de pessoas ou grupos, que se beneficiam economicamente a partir de soluções ou decisões que agridem a natureza e comprometem o futuro humano. O problema é que ninguém espera, a priori, que um especialista em meio ambiente assessore sobre as melhores formas de ignorar, simular ou burlar as práticas ambientais que a ciência e a técnica, ou o senso comum indicam ou propugnam e que até a própria lei ordena. Esses são, pois, os lobos desta história. Continua