20.11.2010
Uma das características da Igreja Católica, como se sabe, é a aversão a mudanças. Isso vem desde sempre, atravessa a história. No começo do século 16, a igreja preferiu emagrecer, expelindo fiéis, a atualizar-se. Surgiram numerosas igrejas cristãs dissidentes.
Pior: rendido às vicissitudes da vida, os católicos, em perfeita paz e excelsa glória, passaram a praticar a religião à sua maneira. Colocaram a consciência acima das determinações do Vaticano. Selecionaram os dogmas que desejam seguir. E fecharam os olhos para pontos cruciais da doutrina da Igreja.
Há católicos que admitem do uso de camisinha ao casamento informal, longe do altar. A maioria dá de ombros para a ideia de que a mulher tem de casar virgem. Em países como o Brasil, a Igreja é reformada na prática cotidiana dos fiéis. A mudança ocorre num lugar onde o olho do papa não chega: a alma dos católicos.
Vive-se uma santa farsa: a Igreja finge que controla o rebanho e as ovelhas fingem que são controladas. Sob esse contexto de hipocrisia, surgiu uma novidade. Chegou nas páginas de um livro. Coisa a ser lançada na próxima terça (23).
Reúne 20 horas de entrevistas do papa Bento 16 a um jornalista alemão: Peter Seewald. Questionado sobre o veto da Igreja aos preservativos, o papa disse: "Com certeza [a Igreja] não vê [o preservativo] como uma solução real e moral". Na sequência, Bento 16 flexibilizou o verbo:
"Em certos casos, quando a intenção é reduzir o risco de infecção, pode ser, no entanto, um primeiro passo para abrir o caminho a uma sexualidade mais humana". Como exemplo, Bento 16 citou uma prostituta que, ao usar o preservativo para se proteger, estaria dando "o primeiro passo para uma moralização".
Até aqui, a proibição do Vaticano aos métodos contraceptivos era geral e irrestrita. Admitia-se apenas a abstinência sexual. Ignorava-se até a Aids. Para entender o tamanho do passo ensaiado pelo papa, vale recuar aos séculos 17 e 18. Vivia-se o auge da chamada Revolução Científica. Continua