04.10.2010
Infográfico no Correio Braziliense |
O imaginário coletivo está cheio de histórias de cartas que chegam à beira da praia dentro de garrafas atiradas ao mar. As mensagens trariam pedidos de ajuda, mapas do tesouro e recados de amor. Lenda ou não, se o costume nascesse hoje, esse “correio marítimo” poderia vir em caixas de leite, latas de extrato de tomate e feijão, embalagens de produtos de limpeza e de talco. São esses os itens que “desembarcam” com frequência na costa brasileira segundo monitoramento da ONG Global Garbage (Lixo Global). Tudo importado. Em quatro anos e cerca de 20 caminhadas pela costa, 6.576 embalagens de 75 países foram encontradas só no litoral da Bahia. Achados que revelam o lixo marinho como uma séria ameaça à vida nos oceanos. Reportagem de Júlia Kacowicz, no Correio Braziliense.
Segundo o fundador da instituição, Fabiano Barretto, a maior parte de itens “estranhos” é jogada no oceano pela tripulação de cargueiros, cruzeiros e outras embarcações, seguindo pela correnteza até a costa brasileira. Outra parte, que aporta em maior volume, vem pelo descarte direto em rios e canais. Nesse caso, os produtos mais comuns são garrafas e embalagens plásticas. “Os itens entram na correnteza e se aproximam da costa. A Bahia tem um trecho que recebe muitas correntezas. Por isso, iniciamos o projeto por lá. Mas a intenção ainda é cobrir toda a costa (do país)”, diz.
Ele ressalta que a “nacionalidade” dos produtos não representa necessariamente os países nem os habitantes responsáveis pela sujeira. “Os produtos foram fabricados nesses locais, mas podem ter sido jogados na praia ou no mar por pessoas de outras origens”, destaca Barreto, que deu início ao projeto a partir de uma caminhada por um trecho deserto da Costa dos Coqueiros (BA). No passeio, ele ficou curioso sobre a quantidade de lixo espalhado na praia e, em 2001, realizou o primeiro levantamento durante cinco dias na Praia do Forte, coletando 94 embalagens de 26 países.
Foi o ponto de partida para uma empreitada anual. Os dados catalogados indicaram os Estados Unidos como campeões do ranking de origem do lixo, seguidos pela Alemanha e pela África do Sul. Segundo o fotógrafo, a chegada dos itens africanos realça a força da correnteza entre os dois continentes, fenômeno sinalizado por um carta anteriormente encontrada.
O baiano esclarece que a iniciativa tem o objetivo de chamar a atenção para o problema da presença dos resíduos nos oceanos. “As praias são locais, mas o lixo é global”, afirma. No ano passado, o grupo criou a Associação Praia Local Lixo Global como maneira de pressionar o governo a implantar um programa nacional de monitoramento marinho. Entre as reivindicações, está a criação de mecanismos que impeçam os navios de despejar o lixo no mar. A maioria dos portos não tem nenhum procedimento de coleta controlada do lixo. Continua
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