04.11.2010
Deu em O Globo
Falta transparência no 'Memórias Reveladas'
Historiadora se desliga de entidade por discordar de ‘cultura do segredo’ sobre documentos do regime militar
Chico Otavio
A falta de transparência na difusão dos arquivos do regime militar provocou mais uma demissão no Centro de Referências de Lutas Políticas no Brasil, o Memórias Reveladas.
Depois do historiador Carlos Fico, foi a vez de Jessie Jane Vieira de Sousa, sua colega na UFRJ, se afastar ontem do cargo de presidente da Comissão de Altos Estudos da entidade. Ela alega que o centro se afastou completamente dos propósitos originais.
— Da ideia inicial de oferecer o acesso aos documentos da ditadura, o Memórias Reveladas virou um projeto burocrático do Arquivo Nacional. Documentos que deveriam ser públicos, porque já foram desclassificados, continuam submetidos à cultura do segredo — lamentou a historiadora e ex-presa política.
Criado pela então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, no ano passado, para facilitar a divulgação dos acervos do regime militar, o Memórias Reveladas é agora centro de uma crise entre pesquisadores e autoridades federais.
Na carta de demissão, Fico disse que decidiu desligar-se depois que o acesso à documentação da ditadura foi restringido "sob a alegação de que jornalistas estariam fazendo uso indevido da documentação, buscando dados de candidatos envolvidos na campanha eleitoral".
A decisão, seguida do desligamento de Jessie Jane, provocou gestos de solidariedade e protestos contra as restrições às consultas:
— Até agora, uma quantidade enorme de arquivos permanece sigilosa. O centro Memórias Reveladas é um engodo. Não libera as informações fundamentais que precisamos. É só um projeto midiático, para inglês ver — lamentou Elizabeth Silveira, do grupo Tortura Nunca Mais. Continua
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